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TUCKER | galeria

Automóvel norte-americano do pós-guerra concebido e fabricado pelo engenheiro Preston Thomas Tucker, famoso por suas soluções técnicas ousadas e pela repercussão internacional do processo judicial a que foi levado. Embora suas grandes dimensões respeitassem o padrão americano da época, o carro recebeu carroceria de estilo avançado, quase futurista, projetada por Alex Tremulis, o importante estilista responsável na década anterior pelo revolucionário projeto do Cord de tração dianteira.

O automóvel previa farta utilização de metais leves, motor traseiro de seis cilindros contrapostos com injeção direta, 9,5 l e 150 cv, refrigeração a ar, sistema elétrico de 12 V, suspensão independente por barras de torção e freios a disco nas quatro rodas. Teria sistema de transmissão inédito: dispensando eixos e diferencial, o motor transmitiria o movimento diretamente para as rodas por meio de dois conversores hidráulicos montados nas extremidades do virabrequim.

Para fabricar o automóvel, Preston Tucker fundou a Tucker Corporation, adquiriu instalações desativadas da Dodge, anteriormente utilizadas na produção de equipamento militar, e lançou uma campanha pública de venda de ações. Por insuficiência de recursos financeiros o carro acabou sendo lançado com motor aeronáutico Franklin, de seis cilindros e 5,5 l, e câmbio semi-automático de quatro marchas e comando eletromagnético. Respeitando o projeto original, a carroceria trazia inéditas soluções de conforto e segurança, tais como três barras estruturais anticapotamento, para-brisas ejetáveis, painel acolchoado, farol central que acompanhava as curvas e porta-objetos nas portas e no teto. 51 automóveis foram fabricados entre 1947 e 48.

Naquele ano, instigado pelos grandes fabricantes, o governo federal abriu processo contra o empresário, acusado de má-fé e fraude no mercado de ações. Apesar de inocentado em 1949, não foi capaz de retomar a produção. Do total fabricado, apenas dois carros foram vendidos fora dos EUA, um para o Japão e outro (o de número de série 1.035, na cor bordô, com acabamento interno castanho claro) para o Brasil. Hoje um Tucker facilmente alcança um milhão de dólares no mercado mundial de carros antigos. A despeito disto, até janeiro de 2011, depredado, o exemplar brasileiro se encontrava abandonado em Caçapava (SP), no que sobrou do Museu de Antiguidades Mecânicas de Roberto Lee, ao lado de outras preciosidades que havia mais de 30 anos aguardavam decisão da Justiça com relação ao destino a ser dado ao espólio do colecionador.

Fato inusitado e até hoje não explicado foi o súbito interesse de Preston Tucker pelo Brasil. Viajou para o Rio de Janeiro em fevereiro de 1951 onde teria iniciado “negociações com capitalistas e industriais latino-americanos” para, segundo consta, ali instalar uma fábrica. Sua intenção seria projetar um automóvel barato, eficiente e seguro – ao qual batizou Carioca – que fosse produzido em grande série. Visão algo utópica, vale registrar, já que nada na época poderia indicar – nem os mais ingênuos sonhos nacionalistas – que o Brasil, importador de 100% de seus veículos, tão cedo aqui pudesse fabricá-los.

Em entrevista a uma publicação norte-americana, em 1955, Tucker descreveu as características do novo automóvel que sonhava construir, muitas delas naturalmente replicadas do modelo anterior. Eis alguns trechos: “(…) A suspensão será independente como dantes; o motor é desenhado para permitir uma instalação simples e rápida e sua remoção também; teremos, na medida do possível, um único tamanho de porcas e parafusos de modo a permitir a desmontagem do motor e da transmissão com uma única chave; terão bem à mão todas as principais partes e acessórios do motor; pretendemos reduzir a distância entre-eixos o quanto for possível sem prejuízo da habitabilidade; será bastante leve para não necessitar de direção assistida; a velocidade será superior a 100 milhas por hora e os freios serão provavelmente do tipo de disco. Nosso alvo é a produção de um carro prático cujo preço será mais baixo que o preço dos carros de grande série mais baratos do que corresponda a tais especificações e os dois únicos que se aproximam são tão pequenos e apertados que um homem de proporções normais tem as maiores dificuldades para neles entrar (…)“.

Este carro, que para todos os efeitos vem sendo tomado como o Carioca – embora tal nunca tenha sido claramente explicitado por Preston –, deveria custar menos de mil dólares e pesar abaixo de 900 kg. Desenhado por Alexis de Sakhnoffsky – conde russo naturalizado norte-americano -, teria motor traseiro de quatro cilindros refrigerado a ar, do tipo boxer, diversos itens de segurança passiva e ativa e para-lamas solidários com as rodas, os da frente, dotados de faróis, movendo-se com a direção. Outra revista da época atentou para sua “perfeita relação com o movimento hot-rod americano“, que então se expandia.

Alguns desenhos artísticos foram publicados pela imprensa, junto às matérias sobre o “novo Tucker”, o mais conhecido deles mostrando um bólido de linhas altamente afiladas. Isto induziu alguns a classificá-lo como esportivo para dois passageiros, o que não parece correto, quer pelas declarações de Preston, quer pelo desenho da lateral do automóvel, que, ao contrário, claramente representa um elegante cupê de duas portas e quatro lugares. De qualquer forma, a morte prematura de Preston Tucker em dezembro de 1956, aos 53 anos de idade, eliminou as últimas chances de realizar seu automóvel brasileiro.





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