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FIBRON | galeria

Em novembro de 1981, a empresa Fibron Industrial Ltda., de Belo Horizonte (MG), apresentou um protótipo de carro urbano com dois lugares e apenas 2,74 m de comprimento, ao qual chamou Fibron 274. Ainda vivendo os efeitos da Segunda Crise Mundial do Petróleo, o Brasil se voltava para o aproveitamento de energéticos alternativos e a indústria automobilística para veículos mais econômicos. Aquele foi um ano em que se multiplicaram no país os projetos de minicarros – nenhum deles concretizado, aliás, ao amainar o risco de falta de combustíveis. O Fibron foi mais um deles, ainda que uma das tentativas mais persistentes.

Dotado de desajeitada carroceria monobloco de fibra de vidro acoplada a um chassi tubular, o carrinho se propunha utilizar um motor de dois cilindros contrapostos, refrigerado a ar, com 643 cm3 e 20 cv, obtido pelo corte de um 1300 boxer Volkswagen; caixa de quatro velocidades, suspensões e freios dianteiros a disco também viriam do Fusca. Ao se iniciar a produção no ano seguinte, porém, o motor foi substituído por outros maiores, a álcool ou gasolina, com 800 (metade do VW 1600), 1000 ou 1300 cm3 (sempre de origem Volkswagen). O carro podia ser fornecido como kit; havia duas opções de acabamento, a “luxo” incluindo rodas de liga, pneus radiais, vidros verdes de acionamento elétrico, para-brisa degradê e rádio com toca-fitas.

A partir do ano seguinte a empresa fabricou mais um carro urbano, em reduzida quantidade, desta vez um triciclo com cabine fechada, dois lugares (um atrás do outro) e acesso pelas janelas laterais. O curioso veículo fora apresentado por seus idealizadores no XII Salão do Automóvel, em 1981, com o nome Saci. Rebatizado Grilo, pela Fibron, usava motor, caixa, garfo dianteiro, componentes da suspensão e parte do chassi da Lambretta. O motor (um cilindro, 175 cm3 e 8,76 cv) estava montado em posição central e acionava o eixo traseiro por meio de corrente; tinha freios nas três rodas (mecânico na frente, hidráulicos atrás) e suspensão por molas helicoidais e amortecedores. A carroceria, medindo 2,00 m de comprimento, era moldada em fibra de vidro.

No final de 1983 a Fibron obteve financiamento da Finep para preparar a versão elétrica do 274, com tecnologia desenvolvida pela UFMG. Utilizando carroceria e chassi do modelo anterior, o elétrico teria autonomia de 120 km, podendo ser abastecido em qualquer tomada de força de rede residencial de eletricidade. Oficialmente apresentado em fevereiro de 1985, já batizado Shock, foi equipado com motor elétrico Bardella de 10 cv, quatro baterias tracionárias, regenerador (realimentando a bateria com a energia gerada em freadas e descidas) e controle de velocidade eletrônico através de transistores de potência (chopper). Foi ainda anunciado um modelo 1/3 mais barato, sem regeneração, com motor de 7 cv, apenas duas baterias e autonomia de 80 km. Com capacidade para 300 kg de carga, a Fibron esperava fabricar dez carros por mês, comercializando-os junto a empresas prestadoras de serviços urbanos.

Os testes, entretanto, não se mostraram tão favoráveis como se esperava: as baterias exigiam cargas mais freqüentes e o chopper, com os principais componentes importados, se revelou excessivamente caro. A empresa então optou por  investir prioritariamente numa versão simplificada (Shock I), utilizando baterias e motores elétricos convencionais e sistema de controle de velocidade eletromecânico, produzindo um veículo com pior desempenho e decididamente menos atraente. A revista 4 Rodas, que avaliou o protótipo, também criticou sua carroceria, inadequada para um veículo elétrico, cujos elementos de tração e comando têm menor porte do que num carro a gasolina, ocasionando muito espaço perdido ou mal aproveitado. Embora já tivesse seus componentes desenvolvidos, a versão mais moderna (Shock II) ficou em segundo plano. Em 1987 a empresa ainda não considerava seus carros elétricos prontos para entrarem em produção – o que, efetivamente, acabou por não acontecer. Os modelos a combustão continuaram em fabricação por mais algum tempo; antes de terminar a década, no entanto, também estariam fora de linha. Menos de cem foram fabricados.

O primeiro veículo lançado pela Fibron, logo após a sua fundação, em 1979, foi o buggy Fox – um dos raros fabricados em Minas Gerais. Após o buggy e as aventuras do Grilo, Fibron e Shock, a empresa passou a se dedicar à produção do avião ultraleve Demoiselle, motores de popa elétricos e piscinas e embarcações de fibra de vidro.





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