Sobre Nós

INDÚSTRIA AUTOMOTIVA BRASILEIRA: MAIS DE CEM ANOS DE ESTRADA

Através de LEXICAR BRASIL você percorrerá a trajetória das muitas centenas de atores que, individualmente e por caminhos os mais díspares, com maior ou menor sucesso, construíram a história da indústria brasileira de veículos automotores.

Em 2006 nosso país comemorou o 50º aniversário da implantação de sua indústria automotiva, oficialmente inaugurada com o lançamento, em 19 de novembro de 1956, da caminhonete DKW Universal. Fabricado pela Vemag, já com 42% de conteúdo nacional, este carrinho com tração dianteira e motor de três cilindros e apenas 900 cc foi o primeiro automóvel produzido no Brasil segundo autorização e sob as normas do Geia – Grupo Executivo da Indústria Automobilística. Daí ser esta a data historicamente tomada como marco zero do setor. Constituído sete meses antes pelo presidente Juscelino Kubitschek, o órgão tinha como objetivo fomentar a instalação, em apenas cinco anos, de um parque industrial capaz de fornecer carros de passageiros, veículos comerciais leves, caminhões, ônibus e tratores agrícolas com virtualmente 100% de nacionalização – patamar quase impensável de ser atingido por um país de economia ainda predominantemente agrícola. (Um pouco mais tarde, e sempre com metas de rápida nacionalização, o governo federal viria a se dedicar também à produção local de empilhadeiras e máquinas de construção.)

Aquele DKW, contudo, não foi o primeiro automóvel fabricado em série no Brasil: em 30 de junho daquele mesmo ano deixara a linha de montagem o primeiro Romi-Isetta, um mini-carro produzido pela Romi, tradicional empresa paulista dedicada à construção de máquinas operatrizes, que tomou a iniciativa de se introduzir no novo mercado quase um ano antes da criação do Geia. Evento ainda mais relevante foi o ingresso da estatal Fábrica Nacional de Motores – a hoje mítica Fenemê – no setor automotivo, em 1949, com a montagem e, já nos anos seguintes, o início de nacionalização de caminhões e chassis de ônibus de origem italiana em sua grande fábrica no Estado do Rio de Janeiro. Diversas outras iniciativas de fabricação de veículos automotores ocorreram no país antes de 1956, ainda que de fôlego curto, dado a incipiência e fragilidade da estrutura industrial brasileira ao longo de toda a primeira metade do século XX; são exemplos os projetos de tratores agrícolas das próprias Romi e FNM e a produção de chassis de ônibus pela paulistana Caio, no início da década de 50.

Não menos importante, porque elemento essencial na cadeia produtiva, foi a existência desde as primeiras décadas do século passado de grande número de fabricantes de carrocerias para ônibus e, naquela fase inicial, também para automóveis. Ainda que possa ter origem algo mais remota, a atividade ficou bem caracterizada na empresa Luiz Grassi & Irmão, fundada em 1904, em São Paulo, e que em 1907 montou em sua oficina o primeiro automóvel Fiat chegado ao país, para ele construindo uma carroceria de projeto próprio. Maior e mais importante indústria de carrocerias de ônibus do país até a II Guerra Mundial, a Grassi sobreviveu até o início dos anos 70. Em seu rastro, uma centena de pequenos fabricantes surgiram de norte a sul, a maioria de caráter artesanal e âmbito local, porém detentores de importante valor simbólico, há muito perdido, de agentes de descentralização econômica e dispersão das atividades industriais pelo território nacional. Após a II Guerra o setor se modernizou e diversas novas empresas surgiram. Muitas sucumbiram, porém as sobreviventes viriam a se posicionar entre as maiores e mais modernas do planeta. Acesse aqui a LINHA DO TEMPO do automóvel brasileiro.

A indústria automobilística nacional, embora sujeita ao efeito cíclico de crises econômicas e de mercado, é hoje uma das mais relevantes do mundo: os números absolutos de produção não cessam de crescer; o país é hoje importante ator mundial nos segmentos de tratores agrícolas e máquinas de construção, sendo fornecedor único de diversos modelos; para algumas empresas, o mercado brasileiro se tornou maior do que o de seu país de origem. Entretanto, ainda que a “locomotiva” do complexo automotivo sejam as duas dezenas e meia de grandes fabricantes associados à Anfavea e Abimaq, com seus carros, caminhões, tratores e máquinas, o universo automobilístico sempre foi infinitamente maior, compreendendo desde esportivos de pequena série, buggies, cabines-duplas e carros de competição até triciclos motorizados, tratores especializados e veículos militares. No conjunto, mais de mil pequenos, médios e grandes construtores foram identificados ao longo do desenvolvimento deste trabalho, aí incluídos alguns “inventores” e criadores independentes, além de instituições de pesquisa e ensino.

LEXICAR BRASIL se propõe a explorar este vasto universo, onde todas as regiões do país têm seus representantes. É significativo que o site tenha início pela marca Abais, um buggy fabricado em Sergipe, e se encerre pelas carrocerias tipo Zepelim, construídas artesanalmente no Pará no início dos anos 50. Entre A e Z, toda a alma brasileira está presente: criatividade de formas, concepção técnica avançada, desenho rebuscado, negócios bem sucedidos; mas também projetos toscos, amadorismo empresarial, irrealismo e fragilidade administrativa. Em meio a toda essa ebulição criativa, muitos projetos de grandes fabricantes mundiais foram programados e não concretizados. Como a história de um país não se faz só de sucessos, todos esses atores estarão presentes nas páginas seguintes.

 


UM CATÁLOGO HISTÓRICO

LEXICAR BRASIL é a versão virtual do livro “A Produção Automotiva Brasileira: Um Catálogo Geral”, obra em quatro volumes disponível para publicação por empresas editoras interessadas. Resultado de quase cinco anos de pesquisa e redação, o livro foi concebido como um catálogo de referência ilustrado, apresentando marcas e fabricantes brasileiros por ordem alfabética. O conteúdo de LEXICAR BRASIL é, portanto, herdeiro da extensa bibliografia, da grande quantidade de periódicos e material publicitário dos fabricantes e dos inúmeros sítios virtuais, alguns deles de grande valor documental, consultados para a elaboração do Catálogo. (A relação de livros, revistas e sites pode ser visitada adiante.)

LEXICAR BRASIL abrange o período de cem anos compreendido entre 1907 (construção da primeira carroceria para veículo automotor pela Grassi) e 2007. Procurou-se, sempre que possível, analisar em detalhe a trajetória do fabricante, vinculando-a ao momento histórico-econômico então vivido pelo país. Também foi intenção ilustrar todos os principais modelos de cada marca (porém apenas aqueles de produção nacional), comentando sua evolução técnica e estilística. O conteúdo vem sendo periodicamente atualizado e, quando necessário, novas rubricas são inseridas. Os verbetes dos maiores fabricantes são complementados, ainda que de forma abreviada, sob o título “O que houve a partir de 2008”, com a descrição de todos os fatos mais relevantes ocorridos nos anos recentes. Três outras categorias de informação foram agregadas ao final das páginas das “grandes marcas”: identificação das séries especiais oferecidas pelo fabricante (indicando o nome da série, com mês e ano de lançamento); relação dos modelos importados (com procedência e mês/ano de início de importação); e premiações e distinções auferidas pelo veículo (ou fabricante, ou personalidade), com indicação do prêmio, órgão de imprensa responsável e ano do evento. Como LEXICAR BRASIL trata da indústria automotiva nacional, veículos e equipamentos de produção estrangeira não são comentados nem ilustrados ao longo do texto.

A rica cobertura da imprensa especializada nos permitiu o resgate, na profundidade desejada, da história das grandes empresas, bem como daquelas de menor porte, mas de maior sucesso e existência mais longa. Com relação à produção artesanal e semiartesanal, no entanto, apesar da quantidade de fontes acessadas, restaram muitas lacunas. Há um pequeno mundo por ser descoberto: identificamos um grande número de marcas sem qualquer informação quanto à origem e características técnicas e estilísticas; de diversos carros dispomos apenas de uma imagem, sem sequer contar com a identificação da marca. Marcas há das quais conseguimos obter informações suficientes, porém nenhuma fotografia. Muito ainda haverá que ser pesquisado e escrito, pois, para completar esta rica história.

LEXICAR BRASIL conta com você para esta tarefa. Comente o conteúdo, critique, contribua com informações e imagens, aponte erros. Há diversas formas de participar: através do FALE CONOSCO, opine e dê sugestões; através da página A PESQUISAR, com suas duas categorias – marcas e imagens -, colabore com informações que possam identificar ou caracterizar aqueles carros ainda desconhecidos; por fim, para as marcas com textos já consolidados, aponte eventuais omissões ou imprecisões que tenhamos cometido e ofereça imagens que porventura faltem.

 


SOBRE NÓS

Categoria 1

(foto: Lula Espírito Santo)

João F. Scharinger, autor e responsável por este site, nasceu no Rio de Janeiro em janeiro de 1948. Cursou engenharia mecânica na UFRJ, com especialização em automóveis no IME; graduou-se em 1974, pela UFF. Nos primeiros anos da universidade trabalhou como projetista em fábrica de carroceria de ônibus. Em 1977 foi contratado pelo governo de Moçambique para colaborar na estruturação da indústria montadora de equipamentos de transporte daquele país, que recém conquistara a sua independência.

Por 27 anos trabalhou num banco federal de fomento, sucessivamente em Planejamento, Energia e Transportes Públicos. Desde 1989, na área de Desenvolvimento Urbano, tornou-se responsável pelo fomento e financiamento de empreendimetos integrados de âmbito intersetorial urbano, envolvendo transporte de passageiros, infraestrutura viária, urbanização, preservação do patrimônio, serviços sociais e saneamento. Aposentou-se em 2007, quando começou a desenvolver este projeto.

“Desde sempre” sentiu-se atraído por carros – mas também por caminhões, ônibus e tratores. Aos cinco anos sentia-se hipnotizado pelas propagandas de Austin, Studebaker, Ford e Nash que descobria folheando revistas Seleções dos anos 50. Logo começou a recortar as figuras e colá-las em cadernos. Em 1954 ganhou do pai sua primeira Revista de Automóveis, a hoje histórica publicação mensal onde José Luiz Vieira, decano da imprensa automobilística brasileira, estreou como jornalista. Em agosto de 1960 sua mãe lhe comprou o primeiro número de 4 Rodas, da qual é até hoje assinante. Desde cedo aprendeu, com o pai, marca e modelo de todo veículo de quatro rodas que circulasse pelas ruas de sua cidade. Assistiu, sem a consciência de que participava de um momento histórico, o aparecimento do primeiro DKW brasileiro. Desenhou muitos carros, chegou a se inscrever no Prêmio Lúcio Meira, mas jamais logrou trabalhar na indústria automobilística. Ainda assim a paixão não arrefeceu, e ao longo de cinco décadas coletou enorme quantidade de material – desde matérias da coluna de automóveis d’O Globo, recortadas do jornal aos dez anos de idade, a coleções de 4 Rodas e Motor3; desde folhetos de propaganda recolhidos em 1960 até a série (quase) completa da Revista de Automóveis, comprada, uma a uma, em sebos e mercados das pulgas de várias cidades do país.

Em 2006, prestes a se aposentar, perguntou-se: “O que fazer com tanto material? Que utilidade dar a conhecimentos por tanto tempo guardados, de que forma canalizar a paixão de toda uma vida?” A indústria automotiva brasileira logo comemoraria seu primeiro cinquentenário. Porque não tentar escrever sua história?

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Em passeio com a família, em 1952, no Rio de Janeiro.

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Desenho de 1966, sua “proposta” para um novo Aero-Willys.

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Em visita à Mercedes-Benz, em 1970, como estudante de engenharia (o quarto, a partir da esquerda).


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