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SIGMA P1 | galeria

A origem da Sigma P1 remonta à Sigma Kart, fundada em 2014, em Araricá (RS), pelos engenheiros gaúchos Evandro Flesch e Pedro Fetter. Embora fosse objetivo da empresa o projeto e fabricação de chassis e componentes para o kartismo indoor, seus criadores sempre tiveram em mente a concepção futura de um protótipo para provas de resistência.

Já em 2015 Evandro e Pedro começaram a trabalhar em seu primeiro carro, batizado Sigma P1. Era intenção da dupla chegar a um veículo com potência suficiente para enfrentar os modelos Ferrari, Lamborghini e Porsche que então dominavam as provas brasileiras de endurance, suplantando os leves e ágeis, porém menos potentes, protótipos nacionais, equipados com motores aspirados de dois litros e transeixos Hewland de Fórmula 3.

Os fabricantes brasileiros buscavam inverter a situação utilizando motores turbinados, o que de imediato trouxe outra dificuldade – encontrar transmissões que atendessem a potências tão elevadas. Existiam no mercado transeixos importados que atendiam aos requisitos desejados, porém com preço elevadíssimo, chegando até à metade do custo total do carro. A solução idealizada pela Sigma foi, então, a construção de um protótipo sem caixa de câmbio, com motor dimensionado para andar somente na marcha mais elevada. (Aparentemente esdrúxula, a hipótese de vencer corridas utilizando somente uma marcha alta já havia sido comprovada na Fórmula 1 – por Ayrton Senna e Michael Schumacher -, não por inexistência de caixa de câmbio em seus carros, mas por defeito mecânico que impossibilitava a troca das marchas.)

Desenvolvido pela Sigma P1 Engenharia com a colaboração de Felipe Lorenzi e Flávio Duarte – também engenheiros e gaúchos -, o projeto determinou a seguinte arquitetura para o novo veículo: chassi tubular com suspensão de duplo A, motor V8 Audi de 4,2 l (dotado de nova turbina, que “enchia” a baixa rotação, assegurando potência constante de 500 cv entre 3.700 e 6.500 rpm), motor elétrico para tirar o carro da inércia e carroceria de plástico reforçado com fibras de vidro e de carbono.

O Sigma P1 estreou em dezembro de 2017, nas 12 Horas de Tarumã, abandonando a prova após 69 voltas. Segundo Jindra Kraucher, um dos pilotos da equipe, “a estreia foi várias vezes postergada em função da complexidade do desenvolvimento; esta alternativa sem câmbio se mostrou viável, mas o tempo de desenvolvimento seria muito maior do que esperávamos“. Por este motivo a equipe decidiu priorizar o desenvolvimento do chassi, instalando no carro um transeixo inglês Xtrac de última geração e deixando para retomar a transmissão sem câmbio “em um futuro próximo“. O carro com o novo câmbio só disputou a última prova de 2018 – as 3 Horas de Santa Cruz do Sul -, em setembro, chegando em 18o na classificação geral e 6o na categoria P1.

O protótipo chegou à temporada seguinte com carroceria totalmente revisada, novos conjuntos óticos e asas dianteira e traseira redesenhadas em fibra de carbono, a posterior com dois elementos e perfil variável – a primeira do país naquele material. O protótipo foi sendo aperfeiçoado ao longo do ano, especialmente na aerodinâmica. A potência do V8 Audi subiu para 550 cv, o carro ganhou iluminação em leds para provas noturnas, o sistema de arrefecimento foi reforçado por radiadores 60% maiores e a asa traseira passou a ser móvel, reduzindo em até 20% o arrasto aerodinâmico.

Todas estas mudanças foram benéficas para o protótipo, que completou as duas primeiras corridas de 2019 em 3o e 9o na categoria P1. No meio da temporada, por restrições econômicas (impossibilidade de investir em alguns melhoramentos, tais como freios de carbono e rodas de cubo rápido), a equipe mudou de categoria, enquadrando-se na P2, com resultados auspiciosos ao final da temporada: dois segundos lugares (4 Horas de Interlagos e 3 Horas de Goiânia), dois primeiros (3 Horas de Santa Cruz do Sul e 6 Horas de Curitiba) e vice-campeonato, todos eles na nova P2.

Prejudicada pela pandemia da covid-19, a temporada de 2020 iniciou tardiamente, no início de agosto, pelas 4 Horas de Interlagos, sem público. A Sigma correu com dois carros diferentes, um em cada categoria. Dada a mudança do regulamento para a categoria P1, limitando a potência em função do consumo de combustível, o novo protótipo (identificado como G2 – de Geração 2) teve a mecânica substituída por um quatro cilindros turbo de 1.550 cm3, porém mantendo a faixa dos 500 cv, associado a caixa de câmbio sequencial de seis marchas com trocas no volante. Para a categoria P2 seria utilizado o carro do ano anterior.

Para 2021 foi preparado um novo carro, denominado G3, com mudanças aerodinâmicas e de mecânica. Mantidos chassi e transeixo anteriores, o motor Audi foi substituído por um Chevrolet V8 de sete litros, o que obrigou à adoção de novos semi-eixos capazes de resistir ao torque adicional do motor. O carro também ganhou radiadores de óleo, freios com discos de cerâmica, ABS e controle de tração. Além de um duto de ar para o motor, com tomada sobre o teto, o projeto aerodinâmico envolveu o redesenho do assoalho (que deixou de ocupar toda a largura do carro), o redimensionamento de diversos outros pontos de tomada de ar e o reposicionamento das saídas do escapamento, voltadas para o centro da asa traseira que, por sua vez, foi elevada para melhorar a dirigibilidade.

O protótipo estreou em agosto, nas Quatro Horas de Interlagos – quarta etapa do Império Endurance Brasil, conquistando o segundo lugar na categoria P1 e o quarto na classificação geral. Chegou ao final da temporada pontuando duas outras vezes na P1 – em novembro, nas Quatro Horas de Santa Cruz do Sul, quando chegou em terceiro, e em Goiânia, em dezembro, em quinto lugar. O carro abandonou em duas outras corridas.

Ainda em setembro a Sigma iniciou o desenvolvimento de mais um protótipo. Batizado G4 e equipado com a mesma mecânica do G3, passou por melhorias aerodinâmicas e na suspensão traseira, ganhou novo aerofólio traseiro com três elementos e teve o peso total reduzido em cerca de cem quilos. Concluído em tempo recorde, estreou em janeiro de 2022, com brilhante vitória nas Mil Milhas Chevrolet Absoluta, onde conquistou a pole position, a melhor volta e foi líder durante as quase doze horas da prova.

 

 [LEXICAR agradece a Daniel Vieceli pelas informações que permitiram a preparação desta página.]





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