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FORD TRATORES | galeria

A Ford foi uma das dez empresas selecionadas pelo GEIA, dentre as 20 que apresentaram ao órgão planos para a fabricação de tratores agrícolas no país. Seu projeto previa a construção de 7.800 unidades de porte médio (2,2 t, com motor diesel Perkins de quatro cilindros e 54 cv) até junho de 1962.

Primeiro trator produzido em série no Brasil, o Ford 8 BR (que por pouco foi chamado Cacique ou Pajé) foi lançado em 9 de dezembro de 1960, em Brasília, com índice de nacionalização de 70%, em peso. Dotado de motor um pouco mais potente (56 cv), oito marchas à frente e duas a ré, tomada de força, sistema de levantamento hidráulico para implementos e bitola ajustável (entre 52 e 64″), o trator era pintado de verde (a carroceria) e amarelo (a grade e os órgãos mecânicos), espelhando o ambiente de orgulho nacional que o país vivia na época. O modelo foi pela primeira vez apresentado ao público na Exposição Internacional de Indústria e Comércio, no Pavilhão de São Cristóvão, Rio de Janeiro, no início de 1961, evento comemorativo do final do governo JK e do progresso industrial conquistado em seus cinco anos de gestão.

Apesar de seu pioneirismo, rapidamente a Ford perdeu espaço no mercado: em 1963 foi ultrapassada pela Massey Ferguson e, no ano seguinte, também pela Valmet. Em 1967, ainda detendo cerca de 22% do mercado e depois de fabricadas 12.443 unidades, alegando a falência do fornecedor do eixo traseiro de seu trator a Ford cessou a produção do 8 BR.

Em 1974, constatando ser o Brasil “o quinto maior mercado consumidor de tratores no mundo“, a Ford decidiu retomar a produção nacional, anunciando a construção de nova fábrica em São Bernardo do Campo para lançamento, em 1975, das séries 4000 e 6000. Com capacidade de produção de 11 mil unidades/ano (em um turno de trabalho), a planta foi inaugurada em junho de 1976. Dois modelos foram lançados: 4600 e 6600, ambos 4×2, com 8 marchas à frente e duas a ré, equipados com motores Ford diesel importados da Inglaterra, respectivamente com 3 cilindros, 3.294 cm3 e 63 cv e 4 cilindros, 4.195 cm3 e 75 cv. A produção cresceu rapidamente e já no ano seguinte a empresa assumia o terceiro posto em quantidade fabricada, levando-a a ampliar a linha. O modelo 6600 recebeu motor mais potente, com 4.392 cm3 e 85 cv; equipado com seu antigo motor de 4,2 l (agora com 79 cv), foi lançado o modelo 5600.

Em 1981, a despeito da crise que desde 1977 se insinuava para o setor agrícola, a Ford, auxiliada pelas exportações, alcançou sua produção máxima – 14.105 unidades –, momentaneamente tornando-a o maior fabricante brasileiro de tratores. A recessão, no entanto, se tornaria mais aguda, derrubando a produção nacional que, entre 1980 e 83, caiu quase 62% – baixando ao nível de 1972, quando a mecanização da agricultura brasileira mal se iniciava. Frente a uma conjuntura externa também desfavorável, a produção da Ford ficou reduzida a somente 3.345 unidades, em 1983 – menos de ¼ de dois anos antes.

Naqueles anos, porém, a Ford atravessava uma fase especialmente feliz, de pujança e dinamismo, não se intimidando com dificuldades conjunturais, e enfrentou a recessão com investimentos e novos produtos (em breve tal realidade mudaria radicalmente, mergulhando a empresa numa fase de conservadorismo e decadência da qual apenas parcialmente se recuperaria). Assim, introduziu uma linha de implementos, de modo a transformar o trator 6600 em retroescavadeira; em 1984 iniciou a produção de motores diesel no país, destinados a equipar seus tratores e a nova linha de caminhões Cargo; ainda naquele ano, voltando o setor agrícola a dar sinais de recuperação, colocou a venda o trator 4600 a álcool, com o mesmo motor de três cilindros, agora com 66 cv, unidade desenvolvida em 1980, resultante da conversão do ciclo diesel para Otto.

Finalmente, em outubro de 1984, renovou a linha de máquinas agrícolas, lançando a Série 10, composta de quatro modelos diesel (4610, 5610, 6610 e 7610) e um a álcool (4810), três deles com versão 4×4. Apresentando algumas melhorias mecânicas (sistema hidráulico, tomada de força, filtros), sempre com motores de três e quatro cilindros, a diesel (63, 76, 86 e turbo 103 cv) e a álcool (66 cv), vinham com câmbio de oito marchas à frente e duas a ré, direção hidráulica (a menos do modelo menor) e freios a disco com acionamento mecânico. Mais adiante, equipado com motor de 6 cilindros (6.578 cm3 e 112 cv) e câmbio de oito marchas à frente e 4 a ré, foi lançado o modelo 7810, o maior trator produzido no Brasil pela Ford. (Modelos mais pesados seriam lançados mais adiante, porém já sob administração da Fiat [para conhecê-los, procure em New Holland].)

No segundo semestre de 1986 a Ford concluiu negociações com a também norte-americana New Holland, grande fabricante de máquinas agrícolas, assumindo o controle da empresa e de todas as suas operações internacionais, inclusive no Brasil, onde liderava o mercado de colheitadeiras, fabricadas em instalações próprias no Paraná. Embora nos EUA tenha sido criada a Ford New Holland, como fruto da fusão, no Brasil os dois negócios permaneceram independentes, embora integrando alguns serviços (um dos primeiros foi o de testes, imediatamente transferidos de Tatuí, em São Paulo, para Curitiba). Pouco foi alterado na linha de produtos – que manteve as marcas Ford e New Holland.

A nova empresa durou poucos anos, sendo em abril de 1990 repassada para o Grupo Fiat, que para tal criou a holding N.H. Geotech (sediada em Londres, com 80% do capital sob controle da Fiat e 20% da Ford), concentrando as operações de tratores, equipamentos agrícolas e máquinas rodoviárias das duas marcas. Com a fusão, a produção brasileira de tratores foi transferida de São Bernardo do Campo para Curitiba, sendo desativada, pela Ford, a fábrica de motores diesel. Em 1999 a Geotech uniu-se à Case, dando origem à gigante mundial CNH; o nome Ford foi descartado. No Brasil, os equipamentos produzidos pela CNH são comercializados sob as marcas Case e New Holland.





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