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Empresa de Pouso Alegre (MG), que entre 1993 e 2001 produziu o jipe Montez, equivalente nacional do utilitário francês Auverland A-3. Com nome JPX Indústria e Comércio Ltda., a empresa foi criada em 1992 pelo futuro bilionário brasileiro Eike Batista (à época, dedicado à mineração de ouro), que por algum tempo foi um dos dez homens mais ricos do mundo. Motivado pelo encerramento da produção nacional dos antigos Jeep Willys, até pouco antes fabricados pela Ford, Eike alugou uma planta desativada da Facit (máquinas de escrever e calcular), ali instalando a linha de montagem do novo carro. A carroceria (de aço, inclusive as portas) seria fornecida pela Brasinca, que também possuía fábrica em Pouso Alegre.

Além da carroceria, o projeto de nacionalização do Montez envolvia o chassi (de perfil retangular), partes da suspensão (produzidas pela própria JPX) e diversos componentes secundários adquiridos no mercado, originários de diversos grandes fabricantes. Todos os demais órgãos mecânicos eram importados: motores diesel e câmbios Peugeot franceses, caixas de redução e transferência Auverland e eixos e freios italianos (em 1966, o câmbio passaria a ser nacional). Segundo a empresa, o conjunto alcançava índice de nacionalização de 70%, em valor.

O Montez era um 4×4 que permitia o engate e desengate da tração total com o veículo em movimento. Tinha motor diesel de quatro cilindros com injeção direta, 1.905 cm3 e 71 ou 90,5 cv (aspirado ou turbinado), freios a disco ventilados na frente e a tambor atrás. Tinha excelente desempenho fora de estrada graças à suspensão com molas helicoidais e eixos rígidos pivotados ao chassi por pino central, permitindo ângulos chassi-eixos de até 30°. O posicionamento do conjunto motor-transmissão atrás do eixo dianteiro proporcionava distribuição de peso quase ideal (48% na dianteira e 52% na traseira) e elevado ângulo de ataque (50°). Seus demais indicadores eram: ângulo de saída, 31°; inclinação lateral máxima, 40°; rampa máxima 45°; nível máximo de água, 58 cm; capacidade de carga, 1.450 kg. O Montez era fornecido em três modelos: Trail (capota de lona), Bravo e Bravo Turbo (capota de fibra). Ar condicionado, guincho elétrico e quebra-mato eram oferecidos como opcional.

Procurando satisfazer o lema difundido pela empresa “veículo de Primeiro Mundo, com serviço de Primeiro Mundo“, cada jipe vinha acompanhado de um cartão de identificação magnético que permitiria ao fabricante monitorar seu histórico e agilizar o atendimento ao proprietário e o fornecimento de peças e serviços no caso de avarias. As ambições da JPX não paravam aí: visando as exportações, a empresa chegou a expor o Montez, em 1994, no Salão do Automóvel de Paris. A realidade, entretanto, seria menos colorida. Apesar dos planos de alcançar a produção de 250 unidades por mês durante o primeiro ano, erros de gestão impediram que a meta fosse atingida, permitindo serem entregues, até novembro de 1994, apenas 120 veículos mensais (embora, segundo a JPX, as vendas fossem de 200). Além disso, foi interrompido o credenciamento de novos revendedores, dificultando o atendimento aos veículos já vendidos. No final do ano toda a administração da empresa foi substituída e as metas redefinidas – em níveis ainda mais irrealistas, todavia: 400 unidades/mês a partir de maio seguinte.

Enquanto isto, o uso diário do Montez apontava para alguns problemas, sendo o mais grave a tendência ao superaquecimento, defeito causado por um erro de projeto da JPX, que instalou um turbocompressor em motor não preparado para tal. Além disto, era insatisfatória a estabilidade em pisos regulares. Para resolver tais deficiências, no segundo trimestre de 1995 foi adotado um radiador de maior capacidade, duas ventoinhas e barra estabilizadora no eixo dianteiro. Aproveitou-se a oportunidade para alterar alguns itens de conforto: novos bancos dianteiros, banco traseiro bipartido, janelas de levantar com acionamento por manivela, painel mais resistente e para-choque tubular na traseira. Submetido pela revista 4 Rodas a um teste comparativo com o legendário Toyota Bandeirante, em abril de 1996, ficaram patentes os muitos predicados do JPX: além de ter desempenho fora-de-estrada um pouco melhor e ser muito mais confortável, o Montez era “mais barato, forte e bem equipado” do que o velho jipe Toyota, dele só perdendo na qualidade da vedação interna e no consumo.

Em julho de 1995 foi lançada a picape Montez 4×4. Com capacidade de carga de 1.050 kg (ou 1.270 litros) e direção hidráulica de série, o novo utilitário apresentava a mesma concepção técnica do jipe, opcionais idênticos e os mesmos componentes mecânicos importados. Podia ser fornecido com ou sem caçamba (metálica ou de madeira) e com cabine simples ou dupla (duas portas), em dois modelos: Standard e CD. Só estava disponível na versão turbo, com 90,5 cv.

O Montez só veria seu crônico problema de superaquecimento totalmente resolvido a partir de maio de 2000, quando o carro passou a utilizar o mesmo motor Peugeot, porém em nova versão, com turbo e intercooler originais de fábrica. O carro também ganhou nova grade frontal, com grande entrada de ar adicional sobre o capô e saídas laterais, novo painel de instrumentos e melhor acabamento interno. Quem testou o jipe com o novo motor ficou satisfeito com o resultado, apenas alguns detalhes de conforto tendo sido criticados: a posição dos pedais, o acesso ao banco traseiro e a falta de circulação de ar para os passageiros de trás.

A imagem da marca, no entanto, estava irremediavelmente arranhada, não tanto pelas naturais deficiências de um novo produto, mas pelo mau relacionamento da fábrica e de seus representantes com os proprietários descontentes com os defeitos do carro. Em dezembro de 2001, tendo sido fabricados em torno de 2.800 carros (cerca de 450 para o Exército Brasileiro), a produção do Montez foi suspensa e a fábrica JPX fechada. Alegadamente, o vilão da história foi a taxa do dólar que, onerando os componentes importados, tornava o carro pouco competitivo. Mas porque a JPX não utilizou um motor diesel nacional em lugar do importado, como já cogitara o presidente da empresa em março de 1997? Isto contribuiria para a solução simultânea de três problemas: redução do custo do veículo, melhoria da rede de manutenção e eliminação do recorrente superaquecimento do motor. Até hoje não foi dada a resposta.





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