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KARMANN-GHIA | galeria

A imagem pública da Karmann-Ghia, no Brasil, é raramente dissociada da Volkswagen, embora sob o ponto de vista empresarial as duas empresas jamais tenham tido vinculação administrativa. A Karmann-Ghia do Brasil Ltda. foi fundada em 1959, em São Bernardo do Campo (SP), como subsidiária da Wilhelm Karmann GmbH, tradicional fabricante alemão de carrocerias, que desde 1901 prestava serviços para a indústria automobilística mundial. A colaboração com a VW alemã teve início em 1949, quando para ela projetou os primeiros Fuscas conversíveis – configuração na qual se tornaria especialista. Em 1955, com o lançamento do Volkswagen Karmann-Ghia (projeto de engenharia da Karmann e design do estúdio italiano Ghia), a fama mundial alcançou a empresa. Além de construir modelos conversíveis para diversos fabricantes (entre os quais Mercedes-Benz, Audi e Chrysler) e fornecer capotas automáticas (Pontiac, Renault e Nissan), a Karmann produz ou produziu cupês para a BMW, VW e Porsche, dentre muitos outros.

A vinda da Karmann para o Brasil, na fase inicial da nossa indústria automobilística, foi de fato motivada pela chegada da Volkswagen. As duas firmas, porém, teriam vidas autônomas, e a própria tramitação junto ao GEIA para a nacionalização do cupê Karmann-Ghia foi conduzida pela encarroçadora, e não pela Volkswagen. Comercializado pela rede autorizada VW, o cupê foi lançado em 1962. Acompanhado do conversível, em 1968, rapidamente se transformou em objeto de desejo, chegando a alcançar a produção de 23 unidades diárias – totalizando 10.000 nos cinco primeiros anos. Os dois modelos se mantiveram em linha até 1971, com 23.578 unidades vendidas (das quais somente 176 conversíveis). Em 1970 foi lançado o novo Karmann-Ghia TC, com quatro lugares, de projeto brasileiro, do qual seriam fabricadas pouco mais de 18 mil unidades até 1975.

Em meados da década de 60 a empresa já era importante fornecedora de ferramentas para estampagem, com exportações para Argentina e Europa; em 1965 produziu todo o ferramental para o Ford Galaxie nacional. Foi quando começou a diversificar suas atividades: em 1967, construiu para a Willys o Itamaraty Executivo; no ano seguinte passou a fornecer caçambas para picapes Dodge D-100; e, em 1972, começou a estampar e montar para a VW as carrocerias do histórico esportivo SP-2.

Naquele mesmo ano, após ter dobrado a capacidade de sua planta, estreou em novo segmento de atuação, onde seria pioneiro e com o qual se notabilizaria nas duas décadas seguintes: a indústria de trailers e motor-homes. Iniciada com dois modelos lançados no VIII Salão do Automóvel – os trailers Caravan KC 330 e 450 (comprimentos de 3,30 e 4,50 m) –, a linha de produtos foi sendo ampliada até chegar, no final da década, a nove reboques (desde o pequeno Colibri, com 2,70 m, até o longo Villa, de 7,70 m) e três motor-casas: Karmann Mobil Carolina (a partir do microônibus Caio Carolina), Mobil Touring e Safari. Os dois últimos modelos, montados sobre a picape Kombi com cabine interligada ao compartimento traseiro, rapidamente se tornaram ícones do campismo brasileiro. No Salão foi também apresentada uma Kombi ambulância, com teto alto moldado em plástico reforçado com fibra de vidro, componente que geraria modelos dedicados a outras atividades, tais como oficinas e consultórios dentários.

Mais tarde o portfolio da empresa também passou a contar com pequenos reboques para transporte e para uso agrícola e (a partir do XII Salão) com um teto alto de plástico reforçado com fibra de vidro, adaptável à linha Kombi (furgão e passageiros), com altura interna de 1,86 m, aumentando em 2 m3 (ou cerca de 30%) a capacidade volumétrica do veículo.

Em 1980 a K-G projetou uma interessante caminhonete, especialmente desenvolvida para a picape Fiat 147, informalmente chamada Jardineta. Com espaço para cinco passageiros, era composta por uma grande capota de fibra de vidro com teto em dois níveis, ampla área envidraçada e grande porta traseira; sobre a parte rebaixada do teto foi instalado um bagageiro. Sua comercialização foi inviabilizada, no entanto, por dois lançamento da Fiat naquele mesmo ano: a caminhonete Panorama e o utilitário Fiorino.

Em 1980 a economia brasileira mergulhou em um ciclo recessivo que duraria até meados da década, causando encolhimento do mercado e desemprego. Em 1984 o efetivo de pessoal da Karmann-Ghia havia diminuído em mais de 1/3, índice semelhante ao da VW, porém superior à média do setor. Num esforço de sobrevivência, ainda em 1984 a empresa começou a produzir tetos-solares para instalação como acessório em carros de série. No ano seguinte recebeu da Ford a atribuição de realizar a transformação do Escort XR3 em conversível (a carroceria era montada na K-G, seguia para a Ford para tratamento anticorrosivo e pintura e retornava para receber o acabamento interno). O XR3 conversível foi fabricado por dez anos, até a Ford descontinuá-lo, em 1995. Dois anos depois, parte das instalações da K-G foi remanejada para a montagem, sob forma CKD, dos jipes Land Rover; a produção, iniciada em 1998, foi mantida até 2006.

Ainda atuando nas áreas de ferramentaria, estamparia e montagem de veículos, em 2008 o controle da Karmann-Ghia foi vendido para o Grupo Brasil – holding brasileira que congrega diversas indústrias dos setores de fundição e componentes automotivos. Em 2012 a empresa foi adquirida pela ILP Industrial (grupo de investimento que também controla a tradicional indústria de plásticos Vulcan). Interessados em retomar a fabricação de veículos com sua própria marca, os novos controladores promoveram um concurso brasileiro de design, tendo como tema a “releitura” do primeiro Karmann-Ghia nacional (veja em Design Brasileiro). Era objetivo da empresa, com base no projeto vencedor, estudar a viabilidade de colocá-lo em produção seriada, o que não chegou a ocorrer.

Obscuras manobras de transferência do controle ocorreram a partir de 2014, com funestas conseqüências para a empresa. Em 2015 metade da força de trabalho foi demitida, e a partir de dezembro os restantes 300 empregados deixaram de receber salários; a partir de maio de 2016 a fábrica foi ocupada pelos trabalhadores. Em 23 de novembro a empresa teve a falência decretada. Arrastando-se na Justiça por anos, o processo referente ao pagamento de salários atrasados e rescisões de contrato só foi concluído em 2022; as últimas indenizações foram pagas em dezembro de 2023.

Desde sua fundação, a K-G efetuou a montagem de mais de 85 mil veículos e carrocerias para a Mercedes-Benz, Fiat, Scania e Volvo, além da Ford e Volkswagen.

<karmannghia.com.br>





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