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Fundada em 1979 e com instalações fabris em São Paulo e Diadema (SP), em poucos anos a SR Veículos Especiais Ltda. tornou-se a maior transformadora de picapes do país. Criada por Eduardo de Souza Ramos, filho do proprietário da Souza Ramos, importante revenda paulista da Ford, a empresa iniciou as atividade fabricando kits de personalização – grades, spoilers, bancos, rodas – para veículos de qualquer marca.

Em 1980 apresentou seu primeiro carro: o Corcel Hatch. Mostrando ao que veio, a empresa preparou um belo automóvel, desenhado por Anísio Campos, bem projetado e otimamente realizado. O carro-base escolhido foi a Belina, devido ao tamanho do tanque de combustível, 13 litros maior do que no Corcel sedã. A conversão compreendia o corte da metade do teto e a retirada das colunas traseiras, substituídas por duas outras, mais longas e inclinadas, também de aço, delimitando o vão do porta-malas e o perfil do carro. As laterais eram então unidas por uma peça de aço, logo acima das lanternas, definindo o batente da tampa traseira. A tampa da mala e o fechamento da traseira (que recebeu as lanternas do Corcel cupê) foram moldados em plástico reforçado com fibra de vidro. O carro recebeu nova grade negra, quatro faróis retangulares e os melhores acessórios disponíveis, tais como teto solar, bancos de couro, vidros elétricos e ar condicionado.

Projeto anterior a este, de 1978, elaborado pela Souza Ramos antes da criação da SR, foi a station Maverick de quatro portas, da qual mais de 400 foram realizadas entre 1977 e 1980. Transformava-se modelos de quatro cilindros ou V8, porém sempre com quatro portas; o encosto do banco traseiro podia ser rebatido. As partes adicionais para a nova carroceria eram fornecidas pela Sulamericana; a Souza Ramos as montava e realizava os acabamentos.

Atenta à crescente procura por veículos transformados, rapidamente a SR ampliou o leque de produtos, lançando suas primeiras cabines-duplas e grande variedade de automóveis especiais, quer com intervenções profundas na carroceria, quer procedendo a simples personalizações, agregando componentes e acessórios para dificultar a associação com o modelo original. Quanto às picapes, o vínculo operacional da Souza Ramos com a Ford levou a SR a utilizar exclusivamente picapes da marca em suas transformações. A empresa estruturaria sua linha de produção com suporte técnico da Ford, dela recebendo homologação como fabricante de carrocerias e garantia de fábrica para seus produtos, como se originais fossem. Em 1986, a SR foi seria a primeira empresa no país a obter esse privilégio. Também conquistaria o direito de vender seus veículos através da rede autorizada Ford. Poucos fabricantes teriam igual reconhecimento (posteriormente, apenas Brasilvan, Demec, Engerauto, Furglass e Sulamericana conseguiriam receber diretamente da Ford picapes “0 km” semi-montadas para transformação; a Brasinca, trabalhando somente com a marca Chevrolet, foi a única a obtê-las da GM).

No final de 1981, no XII Salão do Automóvel, além das cabines-duplas para a picape F-1000 (alongando em um metro a cabine, mas perdendo 30% de espaço para carga), mostrou modelos para o restante da linha de veículos comerciais da Ford, inclusive o caminhão F-13000. A produção de cabines-duplas já atingia dez unidades mensais e seria logo duplicada. No mesmo Salão foi apresentado o Del Rey Executivo, alongado 35 cm, com telefone, bar, ar condicionado e acabamento de luxo ao estilo limusine. O carro também ganhou novos para-choques envolventes, grade de plástico reforçado da cor da carroceria e quatro faróis retangulares. Teve um sucesso surpreendente e em meio ano vendeu mais de 50 unidades. Um ano depois o modelo seria alongado em mais 10 cm, sendo todo o espaço adicional alocado às portas traseiras que, alargadas em comprimento equivalente, melhoraram substancialmente a acessibilidade. Na mesma época foi lançado o Del Rey Conversível.

Em dezembro de 1982 chegaram duas outras novidades: a limusine Landau, 95 cm mais longa do que o carro original, recheada de equipamentos de luxo, além de vidro divisório para o motorista e quatro poltronas montadas frente a frente, formatando um salão no compartimento traseiro; e a caminhonete Country, primeira no país no estilo blazer. Declaradamente uma cópia do Ford Bronco norte-americano, a Country era construída sobre picapes F-100 ou F-1000 com entre-eixos 28 cm menor. A parte posterior da cabine era eliminada, formando um compartimento único com a caçamba, também encurtada, e coberta com uma capota rígida de plástico reforçado, com janelas fixas de vidro verde e portas traseiras de abertura horizontal em duas folhas. O pneu de reserva era montado externamente, sobre uma estrutura articulada com basculamento lateral. Tinha pneus largos e grande altura do solo. Internamente, recebeu bancos individuais giratórios na frente e assento com dois ou três lugares trás, carpete, revestimentos de tecido e isolamento termo-acústico reforçado (existia a opção de tapetes de borracha e estofamento plástico). Grade, faróis retangulares duplos e para-choques também eram novos. No final do ano seguinte a Country ganhou janelas laterais maiores, com vidros curvos avançando até o teto, e porta traseira inteiriça.

No final de 1983, mal havia sido lançado no Brasil, a SR apresentou uma versão “envenenada” do Escort XR-3. Chamada JPS, trazia a mesma pintura preta com filetes dourados da John Player’s Special, patrocinadora da Lotus na Fórmula 1; além de mudanças cosméticas, como a nova grade, o carro recebeu spoiler dianteiro, abas laterais de efeito-solo, aerofólio duplo na traseira e um turbocompressor Garret que elevou a potência de 83 para 100 cv. Poucos meses depois, já em 1984, foi a vez do Escort Targa, que, segundo a empresa anunciava, trazia a vantagem de um conversível, mantinha a rigidez estrutural da carroceria monobloco e não perdia espaço no banco traseiro pela inexistência de mecanismos da capota. O Targa trazia spoilers, asas laterais e aerofólio traseiro, podendo receber pintura com pigmentos especiais e diversos opcionais. O segundo lançamento do ano foi o Monza SR 290, versão executiva do carro da Chevrolet, com distância entre eixos 29 cm maior, portas traseiras 14 cm mais largas e os equipamento esperados em um carro de luxo.

A linha de cabines-duplas foi renovada no XIII Salão do Automóvel, ao final do ano, com o lançamento da Deserter, seu primeiro modelo com janelas “panorâmicas”, acompanhado de novos equipamentos e maior espaço lateral no banco traseiro. O modelo convencional continuava em produção; com retoques no estilo e nos acabamentos, ganhou 15 cm na cabine (sem redução da caçamba), passando agora a chamar-se Max (no ano seguinte, Max Sport, depois de receber santantônio e outros acessórios). A blazer ganhou um irmão maior, sem cortes no chassi, a Country Wagon, com teto elevado, janelas traseiras com quebra-vento e espaço para oito pessoas. O carro foi acompanhado de uma versão ambulância, equipada com uma ou duas macas com rodízios, suportes para soro e garrafa de oxigênio, armário, piso antiderrapante e revestimentos antigermes; podia receber ar condicionado, geladeira para medicamentos e sistema de radiocomunicação.

O Salão, por fim, mostrou o JPS em novo estilo (capô em forma de cunha, faróis escamoteáveis, spoilers integrados aos para-choques, asas laterais, ressalto nos para-lamas traseiros, aerofólio duplo), nas versões teto fixo e Targa. No stand da Fiat foi apresentado um Uno preparado para competição pela SR, equipado com motor turbo e diversos itens de personalização (meses depois a proposta viria a se constituir em um kit de personalização JPS). A produção da SR não parava de crescer e a empresa terminou o ano planejando investimentos para elevar a capacidade da sua fábrica, de 70 para 110 unidades mensais (em quatro anos a área construída da planta já crescera oito vezes).

Em 1986 toda a linha de picapes convertidas (Max Sport, Deserter, Country e Country Wagon) ganhou nova opção de estilo. A traseira recebeu novas lanternas (ironicamente, da Chevrolet) e toda a parte dianteira foi modificada (eram novos capô, grade e grupo ótico, do Corcel); na frente e atrás, novos para-choques envolventes na cor cinza com filetes vermelhos. As versões anteriores, que não foram descontinuadas, passaram a trazer grade com novo padrão e um par de faróis retangulares. À versão renovada foi dado o nome Linha 2 e, às tradicionais, Clássica: assim, segundo anunciava a SR, “cada modelo tem 2 modelos“. Todos tinham quatro opções de acabamento, acompanhando a nomenclatura da Ford: L, GL, GLX e Ghia. Com a nova linha foi disponibilizado um sistema de ar condicionado central com evaporadores posicionados sob o banco traseiro e diversas saídas de ar no teto, que ainda permitia a alimentação de uma geladeira de 35 l. A Linha 2 daria origem a um kit de transformação para as picapes Ford, então rebatizadas Exxtra; além dos itens estéticos externos, incluía três bancos individuais, acabamento interno refinado, direção hidráulica e, opcionalmente, turbocompressor com inter-resfriador.

O mais complexo produto da SR e talvez seu mais importante lançamento surgiu em julho de 1987: a van Ibiza. Montada sobre chassi Ford F-1000, diesel ou a álcool, possuía espaçosa carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro, acomodando oito passageiros em confortáveis poltronas individuais (ou doze, caso fosse eliminado o compartimento de bagagens). Tinha três portas (duas à frente e uma na lateral direita) e uma grande tampa traseira de abertura vertical, auxiliada por molas a gás. Grade e faróis remetiam ao estilo da Linha 2, mas todos os demais componentes eram diferentes, desde o capô curto até vidros e para-brisas, especialmente fabricados para o carro. O acabamento interno utilizava materiais de qualidade e o painel semi-envolvente tinha instrumentação completa.

Em setembro foi apresentada uma nova cabine-dupla para caminhões leves e médios da Ford, trazendo grade e conjunto ótico diferentes. No final do ano, na V Brasil Transpo, foi mostrada mais uma variante da família de cabines-duplas, a Rally, “para aventuras fora-de-estrada“. O pacote de acessórios dava à picape um ar mais rústico, porém não reduzia sua sofisticação e conforto internos nem seu comportamento dinâmico, já que nada de novo foi agregado à mecânica. O carro trazia grade protetora dos faróis, quebra-mato, santantônio, estribos tubulares, faróis de longa distância e cores vivas; um segundo pneu de reserva era montado no teto.

No XV Salão, em 1988, mais uma série foi agregada à linha de picapes. Denominada XK, se diferenciava das anteriores pela grade e para-choques de novo desenho e pelo acabamento mais requintado. Também foram lançadas versões ambulância e furgão para a van Ibiza. No ano seguinte a SR preparou sua primeira transformação em um caminhão com cabine avançada – uma cabine-dupla para o Ford Cargo, mostrada na VI Brasil Transpo, no final de 1989.

A SR trouxe quatro novidades em 1990. A primeira, e mais importante: sua primeira picape quatro-portas, com um visual “quase” de automóvel (quatro décadas defasado, por suposto), graças à caçamba com tampa e ao para-brisa traseiro curvo. Em segundo, veio um kit decorativo para a dupla Ford Verona/Volkswagen Apollo, tentando dar-lhe aparência de BMW. Apesar da pretensão, os resultados foram bons. O conjunto era composto de faróis duplos redondos, grade, capô, abas laterais, aerofólio e spoiler; como opcionais, rodas raiadas de liga, bancos de couro e um motor preparado, com 12 cv a mais. A terceira novidade foi o Ka SRT, versão preparada do Ford Ka com o novo motor Zetec Rocam de um litro. Além da instalação de um turbocompressor, que permitia ganho de potência de 13 cv e aumento de torque de quase 40%, o carro da SR ganhou novos para-choques, entrada de ar no capô, pneus maiores, contagiros e forração de couro. Por fim, como derradeira novidade do ano, a cabine-dupla XP, sobre a picape leve Ford Pampa. Ao contrário dos demais modelos da marca, a XP não foi esteticamente bem resolvida, a má impressão sendo causada pela solução construtiva dada à cabine-dupla – a sobreposição de uma grande cobertura de plástico reforçado com fibra de vidro à cabine original, na cor preta fosca, com teto elevado e janelas traseiras trapezoidais discordantes de todas as linhas do carro. O novo modelo estava disponível em dois padrões de acabamento: básico (o mesmo da Pampa original) e luxo, com grande quantidade de acessórios opcionais.

Surpresa maior do que todas estas, contudo, foi o anúncio, às vésperas do Salão, da venda de tão bem sucedido negócio. Ameaçado de ter o fornecimento de picapes Ford reduzido a 1/3 com a criação da Autolatina e pressentindo problemas de mercado para seus veículos com a liberação das importações, já divulgada pelo governo Collor, Eduardo Souza Ramos decidiu dar uma guinada em sua vida: vendeu a marca SR e as fábricas de Diadema e São Paulo para um empresário alagoano, proprietário de revendas Ford no Rio de Janeiro e em Pernambuco (que meses antes já adquirira o controle da Furglass), e se voltou para o comércio de carros importados.

Em 1991 obteve a representação oficial dos veículos Mitsubishi, criou a MMC Automotores do Brasil e, três anos depois, começou a montar picapes da marca em Manaus (AM), a elas agregando novos componentes, afastando-as dos originais japoneses e tornando-as únicas no mundo. Hoje a MMC fabrica diversos modelos Mitsubishi em sua grande fábrica de Goiás. A Souza Ramos permaneceu operando como concessionária Ford até sair do mercado em março de 2021, dois meses depois do fabricante norte-americano anunciar a decisão de abandonar a produção no país.

Já sob nova administração, em 1991 a SR lançou a caminhonete Country cinco-portas, projeto provavelmente pronto desde o ano anterior. Em 1992, em resultado da reestilização das picapes Ford, toda a linha SR teve o projeto revisto. Além de adaptar-se às novas linhas das cabines originais, que ganharam estilo mais limpo, para-brisa mais inclinado e janelas e portas maiores, a empresa aproveitou a oportunidade para marcar sua nova identidade, alterando o estilo da dianteira de toda a família de veículos, apresentando-a com nova grade, faróis, para-choque, capô e para-brisa traseiro. A van Ibiza, cuja carroceria não derivava das picapes, pouco foi alterada, só mudando grade e detalhes no para-choque dianteiro.

Em 6 de janeiro de 1996, durante as férias coletivas dos empregados, uma das fábricas da SR sofreu incêndio. Imediatamente a seguir a empresa demitiu todos os funcionários e requereu concordata, alegando que só teria como quitar suas dívidas, anormalmente acumuladas ao longo do ano anterior, após ser ressarcida pelo seguro. Idêntica situação havia ocorrido na Furglass, em janeiro de 1992, o que levantou suspeitas quanto à intencionalidade do incêndio, posteriormente confirmada pela Justiça. Considerado criminoso o sinistro, o seguro não foi pago e a SR entrou em processo de falência.





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