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Fundada em 1899, a Renault é um dos mais antigos fabricantes de automóveis do mundo e maior indústria automobilística da França. O interesse da empresa em produzir seus veículos no Brasil vem de longe: ainda no início de 1956 firmou acordo com a Cirei, concessionária Dodge e Renault do Rio Grande do Sul, envolvendo planos de longo prazo que previam implantar indústria na Região Metropolitana da capital gaúcha, inicialmente fabricando 100  automóveis por dia, com peças e componentes nacionais, e crescimento contínuo da produção até atingir, no 15o ano (1971), 700.000 unidades. Capitais e administração seriam brasileiros, sendo a Renault responsável pela tecnologia e apoio técnico.

A futura indústria, constituída em outubro com o nome Indústria de Veículos Automotores Cirei S.A. (ou Ivacirei), não obteve, no entanto, licença de instalação do Governo Federal, alegadamente pela inviabilidade econômica de sua localização, muito distante dos centros de produção de peças e do consumo. O Geia fora recém criado, em junho daquele ano, passando a traçar as diretrizes para a implantação da indústria brasileira de veículos, e a iniciativa gaúcha não se articulava com as regras do novo órgão. (No mesmo ano de 1956 a Renault esteve envolvida em outro projeto, também sem continuidade, este para produção de tratores pela empresa Intramag, em Taubaté, SP.)

Os carros da Renault acabaram por chegar ao Brasil por vias indiretas, pouco depois, fabricados pela Willys, que após lançar o Dauphine (1959) e o Gordini (1962) preparou, em conjunto com a empresa francesa, o primeiro automóvel brasileiro de concepção moderna especialmente projetado para o país – aquele que viria a se tornar o extremamente bem sucedido Ford Corcel. Além destes, em 1960 o Geia aprovou o plano de nacionalização de tratores leves Renault, proposta também apresentada pela Willys. Visando produzir, até 1962, 3.000 unidades de 1,6 t com motor MWM de 35 cv, o projeto terminou por não ser implantado.

Posteriormente, em 1973, muitos anos depois de ter sido encerrada a produção local dos modelos Renault-Willys, executivos da Renault visitaram o Rio Grande do Sul, a convite do governo do Estado. Já no ano seguinte, no entanto, avaliavam a hipótese de criar no Estado do Rio de Janeiro instalações para a fabricação de motores diesel e, em associação com a Santa Matilde, também de tratores. Em 1976 nova tentativa, dessa vez com a Agrale, da qual adquiriu 15% do capital, também para a fabricação de tratores pesados. Nenhum desses projetos teve continuidade. Em 1977 teve negada uma consulta oficialmente encaminhada ao Governo Federal para se instalar como fabricante de automóveis, o que não impediu que uma delegação francesa visitasse Pernambuco, no ano seguinte, visando a implantação de uma fábrica de ônibus na região. Na década seguinte, pelo menos por duas vezes a empresa voltou a sondar sua vinda: no início da década, para a produção de “carros populares” (talvez o R5) em Suape (PE) e, entre 1986 e 87, através de novas missões técnicas ao Rio Grande do Sul, avaliando as condições oferecidas pelo Estado para investidores no setor.

A história recente da marca no Brasil se iniciou nos anos 90, com a reabertura das importações – e dessa vez a Renault não perdeu a oportunidade. Com a boa acolhida obtida por seus produtos, logo a empresa se persuadiu da necessidade de se instalar industrialmente no país. Como acabara de acontecer (em fevereiro de 1990) acordo de intercâmbio de capital entre a empresa francesa e a sueca Volvo, inicialmente falou-se na utilização das instalações da Volvo, em Curitiba (PR), para a montagem de modelos Renault fabricados na Argentina. Em 1991, furgões e vans Traffic, começaram a ser vendidas no Brasil com a marca Chevrolet. Depois, no final de 1993, considerou-se a montagem CKD dos pequenos Twingo. Houve ainda negociações com a Mercedes-Benz e a Fiat, na Europa, buscando o compartilhamento de suas usinas no Brasil.

Scénic: a chegada tardia ao Brasil e nosso primeiro monovolume de grande série

Ao encerrar o ano de 1994 como líder de mercado em veículos importados, porém, a Renault deixou de lado a indecisão e enveredou por caminhos muito mais ousados: vendeu suas demais subsidiárias na América do Sul (inclusive a maior delas, na Argentina) e, imediatamente após a determinação do governo federal em elevar as alíquotas de importação de veículos de 35 para 70%, em abril de 1995 anunciou sua decisão de construir uma usina completa para a produção no Brasil de um hatch médio inédito, ainda não lançado na Europa, substituto do R19 – que viria a ser o Mégane, oficialmente apresentado no Salão de Frankfurt daquele ano.

Após meses de “guerra” de incentivos entre os sete estados das regiões sul e sudeste – do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul – e da subserviência de governadores e prefeitos em visita à França, atendidos por executivos do segundo escalão da montadora, em março de 1996 a Renault finalmente optou pelo Paraná. Este, mediante negociações conduzidas pessoalmente pelo governador, ofereceu-lhe o seguinte “pacote” de benefícios: doação de terreno de 250 ha, com respectiva terraplanagem e infra-estrutura; isenção de taxas e impostos municipais por dez anos; compromisso de participação societária, com capital próprio ou de empresários locais, em 40% do investimento (cerca de US$ 300 milhões); utilização do ICMS devido como capital de giro; subsídio nas tarifas de energia elétrica; melhoria da infra-estrutura de ligação entre a fábrica e o porto e aeroporto; concessão de terminal privativo em Paranaguá, com tratamento diferenciado dos demais usuários; garantia de transporte público até a Capital.

Os termos do protocolo assinado entre o Estado do Paraná e a Renault, que definira todas estas benesses, foram, na prática, secretos. Apenas dois anos depois (em janeiro de 1998), fruto de pressão parlamentar, o Estado foi forçado a divulgá-los, quando foram reveladas cláusulas ainda desconhecidos, tais como a que obrigava o Paraná a assegurar empréstimos de longo prazo, no valor de 1,5 bilhão de dólares norte-americanos para futuras expansões da usina, sem juros e correção, e a que tornava responsabilidade do Estado qualquer dano ambiental provocado pela fábrica. Tamanhas facilidades viriam a ser continuamente contestadas a partir de 2003 como lesivas ao interesse público, tanto pelo legislativo do Paraná como, ainda mais fortemente, pela nova administração estadual.

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Folder de propaganda do Scénic, primeiro produto da fábrica brasileira da Renault.

Primeira multinacional a decidir se instalar no Brasil na terceira leva de expansão da nossa indústria automobilística, em final de março de 1996 a Renault lançou a pedra fundamental do futuro complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais, inaugurando-o dois anos depois, em dezembro de 1998. A unidade incorporaria importantes avanços tecnológicos, tais como pintura com tintas à base de água, menos poluente (pela primeira vez na América Latina), e linha de fabricação totalmente monitorada por computador. Seguindo o conceito de consórcio industrial, cinco fornecedores terceirizados se instalaram junto à unidade fabril, responsabilizando-se pela entrega de sub-conjuntos montados. Com o empreendimento, com capacidade máxima de produção de 120 mil unidades/ano, pretendia a Renault até 2005 conquistar 7% do mercado nacional e 10% do Mercosul.

Assumindo como estratégia de atuação na América do Sul a fabricação local de modelos atualizados, recentemente lançados na Europa, em novembro a Renault anunciou a intenção de também fabricar no Paraná um modelo de menor porte – o novo Clio, que só viria a ser mostrado ao mundo em abril de 1998, no Salão de Genebra. No último trimestre de 1996, no Salão de Paris, foi feita a apresentação oficial do Scénic – a van derivada do Mégane –, e já em 1997 se anunciava sua fabricação no Brasil, ao lado do Clio II e do então recém-lançado Kangoo (que, entretanto, nunca viria a ser aqui produzido). Segundo esta estratégia, o Mégane hatch viria a ser produzido apenas na Argentina, e não mais no Brasil.

Em setembro de 1998, quase três meses antes da inauguração oficial da Usine Ayrton Senna, começou a ser montada a pré-série do Scénic nacional, oficialmente lançado no mês seguinte, no Salão do Automóvel de São Paulo. Primeiro produto brasileiro da Renault (e primeiro monovolume moderno fabricado no país), o novo carro só ganharia fortes concorrentes dois anos depois, com o lançamento quase que simultâneo de modelos da Chevrolet Zafira e Citroën Picasso. Oferecido em duas versões (RT e RXE), o Scénic apresentava interior amplo e bem concebido: piso plano, sem ressaltos entre os bancos; três assentos traseiros, independentes, rebatíveis, deslizantes e desmontáveis; cintos de três pontos em todos os lugares; mesinhas dobráveis no encosto dos bancos dianteiros; diversos porta-objetos; comandos do rádio na coluna da direção. O carro, que foi lançado com índice de nacionalização de 65%, pouco acima do que exigia a legislação federal, dispunha de duplo air-bag, para-lamas de plástico flexível e ABS opcional (apenas na versão mais cara). O motor 2.0 era importado do México.

Repetindo o sucesso obtido na França, também no Brasil o Scénic desde o início obteve excelente acolhida de crítica e de público. Foram destacados sua praticidade, espaço interno, especialmente nos assentos traseiros, conforto da suspensão, facilidade de manobra e excelente estabilidade, apesar do alto centro de gravidade. Como pontos fracos, o posicionamento incômodo do volante, muito horizontal, o consumo elevado, o acabamento falho e persistentes ruídos internos derivados do material plástico interno. Futuramente, no seu 10º aniversário (11/03), a revista Carro apontaria o Scénic como um dos dez carros nacionais que marcaram a década.

O PRIMEIRO SCÉNIC: SUA FICHA TÉCNICA: carroceria monobloco tipo monovolume, cinco portas, cinco lugares, bagageiro com 410 litros, 4,13 m de comprimento; motor transversal dianteiro refrigerado a água, com quatro cilindros em linha, 8 válvulas, 1.998 cm3, 115 cv; alimentação por injeção eletrônica multiponto; tração dianteira com caixa manual de cinco marchas; direção hidráulica; suspensão independente nas quatro rodas (McPherson na dianteira e braços oscilantes e barras de torção na traseira); freios a disco ventilados na dianteira e a tambor na traseira.

Em julho de 1999 chegou ao mercado mais uma versão, RT, com motor 1.6 16 válvulas (1.598 cm3, 110 cv) importado da França. Apesar de oferecer torque inferior, a concepção mais moderna do 1.6 lhe proporcionava potência quase igual à do 2.0, com consumo muito menor (de 1/3, na cidade, a cerca de 11% na estrada). O carro trazia painel com nova disposição dos instrumentos e volante de três raios, que logo seriam agregados ao resto da linha. Entre junho e novembro de 1999 a revista 4 Rodas submeteu um Scénic RT 2.0 a seu Teste de Longa Duração, sem que o carro apresentasse qualquer defeito mecânico ou desgaste inesperado após 30 mil km nas mais diversas condições de uso, em estradas do nordeste ao sul do país. As qualidades e os pequenos defeitos acima referidos foram reafirmados, tendo sido ressaltado o alto custo dos serviços de manutenção e a ineficiência da (ainda inexperiente) rede autorizada.

Clio: o maior fabricante dentre os recém-chegados lança o seu modelo “popular”

Em novembro, com apenas um ano de operação e já situada como quinto maior fabricante do país, a Renault lançou o Clio nacional, primeiro “carro popular” apresentado por um fabricante recém-chegado, em concorrência direta com os “quatro grandes”, há décadas aqui instalados. Com 70% de nacionalização, o carro tinha duas opções de motor: um 1.0 com 59 cv (especialmente projetado para o mercado brasileiro) e um 1.6 com 90 cv, ambos inicialmente importados, respectivamente da França e da Espanha. Também apresentava uma coleção de equipamentos incomum em veículos da categoria, com destaque para o duplo air-bag (primeiro do país a equipar um carro 1.0) e para as barras de proteção lateral nas quatro portas. Outras características marcantes: quatro cintos de segurança de três pontos; comando de som na coluna de direção; para-lamas dianteiros de material plástico; garantia de seis anos contra corrosão; primeira revisão apenas aos 40 mil km.

Cada uma das versões era oferecida em duas categorias de acabamento: RL e RN, para o motor 1.0, e RN e RT, para o 1.6. A dianteira do Clio brasileiro diferia ligeiramente do modelo francês, pois aqui os para-choques envolviam a entrada de ar do motor. A versão básica (1.0 RL) não possuía calotas e tinham para-choques de cor preta. A meta da empresa era produzir 32 mil Clio ao fim do primeiro ano (fabricou quase 26 mil).

O PRIMEIRO CLIO: SUA FICHA TÉCNICA: carroceria monobloco tipo hatch, cinco portas, cinco lugares, bagageiro com 255 litros, 3,77 m de comprimento; motor transversal dianteiro refrigerado a água, com quatro cilindros em linha e 8 válvulas (999 cm3, 59 cv e 1.598 cm3, 90 cv); alimentação por injeção eletrônica multiponto seqüencial; tração dianteira com caixa manual de cinco marchas; direção hidráulica (apenas para motorização 1.6); suspensão McPherson na dianteira e semi-independente na traseira (braços oscilantes e barras de torção); freios a disco ventilados na dianteira e a tambor na traseira.

As avaliações da imprensa apontaram como principais dotes do Clio a boa suspensão, a estabilidade, o silêncio de marcha e o ótimo desempenho do motor 1.6 (o motor 1.0 8v deixou a desejar, sendo um dos menos brilhantes diante da concorrência). As críticas foram poucas: pouca desmultiplicação da direção, agravada pela ausência de assistência no modelo 1.0, materiais plásticos de baixa qualidade, má localização de alguns comandos elétricos, trepidação na alavanca de mudanças, altura reduzida entre o teto e o assento traseiro e certa distorção de visão de ré, produzida pela curva acentuada do para-brisas traseiro. Também foi reconhecida a economia do Clio 1.0: num teste comparativo realizado pela revista Carro (08/00), cotejando nove automóveis brasileiros com motor “mil”, o carrinho da Renault teve os melhores resultados na estrada (17,1 km/l) e o segundo menor consumo em percursos urbanos (13,0 km/l).

O ritmo de realizações da Renault parecia não cessar, e em dezembro de 1999 inaugurava a sua unidade de fabricação de motores (denominada Mecânica Mercosul), inicialmente produzindo o 1.6 16v de 102 cv e, logo em seguida, também o 1.0 16v de 70 cv, em substituição às unidades importadas da Europa. Com isto, os índices de nacionalização do Scénic e do Clio foram elevados em cerca de 15%. (Os novos motores só chegariam ao Clio, entretanto, muitos meses depois: em setembro de 2000, o 1.6, e em março de 2001, o 1.0.) Com capacidade inicial para produzir 280 mil unidades/ano, utilizando fundidos fornecidos por terceiros, a usina de motores foi dimensionada para suprir as fábricas da Renault no Brasil, Argentina e Uruguai, além da Peugeot brasileira (que utilizaria o 1.0 no 206, sua primeira criação nacional). Inicialmente operando apenas como montadora, a fábrica de motores seria completada em maio de 2001, com a inauguração da sua linha de usinagem.

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Modelo de longa vida, o Clio (aqui na edição 2015) se tornou o carro mais barato da Renault.

No início do ano 2000 foram anunciadas mais duas expansões na fábrica do Paraná, agora com a instalação de uma linha de estampagem (inaugurada em outubro de 2001) e a construção de unidade para a produção de veículos comerciais médios (e “possivelmente” de carros da japonesa Nissan, cujo controle acabara de ser adquirido pela Renault).

Em agosto foi lançado o terceiro produto Renault brasileiro: o Clio Sedan. 38 cm mais longo (e 35 kg mais pesado) que o seu irmão hatch, o sedã ostentava o maior porta-malas do segmento, com 510 litros de capacidade. Comercializado em duas versões (RN e RT), o carro recebeu o novo motor 1.6 16v (que também passou a equipar o hatch, em substituição ao 8 válvulas importado). A Renault encerrou o ano com mais um lançamento – o Clio Si, versão esportiva do hatch. Equipado com o motor 1.6 16v, que teve a potência aumentada para 110 cv, o Si pouco se diferenciava da versão 1.6 “normal” em desempenho. Trazia, porém, um bom número de pequenas alterações de estilo e acabamento, além de equipamentos de série que o diferenciava dos demais membros da família: rodas de liga leve de design bem moderno, aerofólio traseiro, ar condicionado, faróis com refletores duplos e lentes transparentes, retrovisores na cor da carroceria, faróis de neblina, bancos esportivos, volante e manopla do câmbio revestidos de couro; e o mais importante: foi o primeiro Clio a ser equipado com freios ABS.

Em março de 2001 o motor 1.0 16v nacional enfim chegou à linha Clio, passando a equipar tanto o hatch como o sedã (o motor 8v importado permaneceria por algum tempo no mercado, equipando o modelo básico RL). Junto com o novo motor passava a ser oferecida direção hidráulica para o hatch RN (de série apenas no RT) e, pela primeira vez na Renault, acelerador eletrônico (também no sedã). Apesar de o novo motor proporcionar maior economia que o anterior, garantia um desempenho apenas sofrível, especialmente nas retomadas. Confrontado pela revista 4 Rodas (11/01) com três modelos 1.0 16 válvulas de outros fabricantes (Peugeot 206, Volkswagen Gol e Fiat Palio), o Clio situou-se em último lugar: apesar de ter sido o mais econômico na cidade e ser o único a dispor de duplo air-bag, teve confirmado seu desempenho medíocre (a despeito de ter o mesmo motor do 206), além de receber várias críticas com respeito à ergonomia.

No mês seguinte, coincidindo com a produção de seu 100.000º veículo nacional e antecipando-se ao lançamento próximo das primeiras vans brasileiras suas concorrentes – Citroën Picasso e Chevrolet Zafira –, a Renault apresentou a primeira reestilização do modelo Scénic. Além dos grandes faróis e demais alterações na dianteira (apresentadas um ano e meio antes no Salão de Frankfurt), o carro trazia muitas outras novidades: lanternas traseiras com lentes lisas, incorporando as luzes de neblina; porta-placa pintado na cor da carroceria; gaveta sob o “banco do carona”; pequenos ajustes nos comandos do painel; novo volante de três raios; novos comandos eletro-eletrônicos (travamento de portas, regulagem dos faróis); e, na versão RXE, computador de bordo, freios a disco ventilados também na traseira e regulagem eletrônica de frenagem EBD. Também o propulsor 2.0 foi mudado, sendo agora um 16v francês, com 140 cv, proporcionando melhor desempenho e muito mais economia do que o anterior 8v. Em setembro, por fim, chegou à linha Scénic 2.0 a transmissão automática francesa programável Proactive, como opcional, e, com ela, bancos de couro e descanso para o braço do motorista na versão RXE (só em novembro de 2003 a caixa automática seria disponibilizada para o motor 1.6).

Master: a Renault no segmento de utilitários

Apesar de tantas novidades, a chegada quase simultânea de seus dois concorrentes, de projeto mais recente, começou a colocar em xeque o reinado do pioneiro Scénic. E os testes comparativos entre os três apontaram para isso. Se, devido ao seu novo motor 2.0 16v e aos quatro freios a disco, o Scénic tinha o melhor desempenho e economia dentre os três, perdeu o monopólio no quesito “funcionalidade, pois os seus grandes achados, tais como porta-objetos, mesinhas de avião e bancos traseiros tripartidos, foram logo imitados e suplantados pelos concorrentes. O Scénic também tinha menos espaço interno para as pernas, menor variedade de equipamentos de série e o menor porta-malas entre os três. O modelo, contudo, continuava a agradar: pesquisa realizada através da internet, pela revista 4 Rodas (“Os Eleitos”, 01/02), envolvendo proprietários dos 30 carros mais vendidos no Brasil, resultou na escolha do monovolume da Renault como o carro com maior índice de satisfação entre os donos; na pesquisa do ano seguinte, Scénic, Clio hatch e sedã seriam os campeões em suas categorias. A boa acolhida do mercado garantiria a permanência do Scénic, como líder de vendas no seu segmento, pelo menos até 2003. (Para fortalecer sua posição, e inspirada pelo Citroën Picasso, a Renault instalou saídas de ar condicionado para os passageiros do banco de trás de seu monovolume.)

Em junho a Renault ultrapassa a Ford na produção mensal de automóveis, ocupando, por um breve tempo, a posição de 4º fabricante nacional no segmento. Em agosto, duas novidades na linha Clio: o motor 1.6 com potência de 110 cv (antes restrito ao modelo Si) e o Tech’Run, versão esportiva do 1.0, com aerofólio, rodas de liga leve e detalhes internos em couro.

A segunda metade de 2001 foi um período de forte retração de vendas para a indústria automobilística brasileira. Exatamente em dezembro, quando dava férias compulsórias a seus 2.700 funcionários como forma de escoar a produção estocada em seus pátios, a Renault inaugurou sua terceira unidade em São José dos Pinhais – uma fábrica de utilitários, compartilhada com a Nissan. Primeira experiência mundial de produção conjunta entre as duas empresas numa mesma unidade industrial, a fábrica de utilitários foi concebida com duas linhas de montagem paralelas, convergentes na área de pintura, atendendo às duas marcas. Com a inauguração, foram lançados dois furgões da linha Master (em maio do ano seguinte, seria a vez dos primeiros produtos Nissan nacionais deixarem a linha de montagem). Com este lançamento, de uma só vez a Renault estreou em três novos mercados, expandindo consideravelmente seu espaço de atuação no Brasil: o transporte de carga, as picapes e o transporte coletivo de passageiros. A capacidade de produção da nova unidade era de 40 mil veículos por ano; no primeiro ano previa-se a fabricação de 8.200 unidades, entre as duas marcas, com 68% de nacionalização para o Master.

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Renault Master Minibus 2009.

Como os demais carros da Renault, o Master trazia itens de segurança incomuns no Brasil na sua categoria: freios a disco nas quatro rodas, cintos de três pontos nos três assentos, ABS e air-bag (os dois últimos como opcionais). Os furgões tinham porta lateral de correr e portas duplas traseiras, com abertura até 180° e ocupando toda a extensão do veículo; a altura do piso do compartimento de carga (53 cm) era a menor da categoria. Os primeiros modelos fabricados foram os furgões L1H1 e L2H2, com 8 e 10,8 m³ de capacidade de carga, ambos com motores diesel Iveco nacionais de 2,8 litros, aspirado (86 cv) ou turbo com intercooler e injeção direta (115 cv). A linha foi completada nos dois anos seguintes: em outubro de 2002 foi lançada a primeira versão para passageiros, a van Minibus, com 16 lugares, especialmente projetada para comercialização no Brasil, seguida do modelo chassi-cabine (com as características técnicas e dimensionais do furgão L2H2) e do furgão L3H2, para 12,6 m³ de carga. Com o tempo, a Renault homologaria diversos pequenos fabricantes independentes, a eles atribuindo a responsabilidade pela transformação dos modelos Master em cabines-duplas, ambulâncias, carros-oficina, baús frigoríficos, vans executivas ou para qualquer aplicação especial de interesse do cliente, estendendo ao veículo a garantia e a assistência técnica de fábrica.

O PRIMEIRO MASTER: SUA FICHA TÉCNICA: carroceria monobloco furgão, cinco portas, três lugares; capacidade de carga de até 1.644 kg;  entre-eixos de 3,08 a 3,58 m; altura interna de 1,67 ou 1,91 m; capacidade volumétrica de 8 a 12,6 m³; 4,89 a 5,89 m de comprimento; motor diesel transversal dianteiro, refrigerado a água, com quatro cilindros em linha e 8 válvulas, 2.799 cm3 e 86 cv (aspirado) ou 115 cv (turbo); tração dianteira com caixa manual de cinco marchas; direção hidráulica; suspensão McPherson na dianteira e eixo rígido com molas semi-elípticas na traseira; freios a disco nas quatro rodas (ventilados na dianteira).

A partir de meados de 2002, com seus planos de crescimento fortemente afetados pela crise de mercado, pelas flutuações do dólar e pela grande quantidade de novos lançamentos concorrentes a Renault decidiu investir nas exportações para além da área do Mercosul. Assim, a exemplo dos bons resultados obtidos por sua fábrica de motores, que já comercializava no exterior (inclusive na Europa) metade da produção, pensou em fabricar um carro destinado ao mercado externo que ajudasse a equilibrar seus resultados financeiros. Pouco duraram tais planos, pois já em junho de 2003 a direção mundial da empresa anunciaria a desistência de fabricar um “carro mundial” no Brasil. Entretanto, com os primeiros sinais de recuperação da economia, três meses mais tarde o tema foi retomado, agora visando o desenvolvimento de um modelo “mais simples” do que o Clio. A decisão final, tomada pela direção central da Renault em junho de 2004 seria bastante diferente, no entanto. A notícia foi dada por partes: naquele mesmo mês foi oficialmente anunciado que o novo carro, a ser lançado em 2005, seria o belo novo Mégane Sedan II; em setembro falou-se em mais um produto, este para 2006, a versão nacional do romeno Dacia Logan, “um modelo extremamente barato”, “para mercados emergentes”, nos formatos sedã, hatch, picape e caminhonete. Ambos os modelos seriam destinados à exportação.

Embora fosse o quinto maior fabricante brasileiro, a Renault estava longe de atingir sua capacidade ótima de produção (para a capacidade instalada de 150 mil unidades anuais, depois de ter fabricado mais de 71 mil carros em 2001, produziu apenas 55 mil no ano seguinte). A apresentação, em fevereiro de 2003, da versão renovada do Clio (lançada na Europa no ano anterior) fez parte da estratégia de fortalecimento de seus produtos diante da concorrência. Além da radical mudança na dianteira, em perfeita harmonia com o design das laterais e traseira, deixando o carro absolutamente atual, o Clio recebeu alguns outros retoques mecânicos e estéticos: recalibragem da injeção, com pequeno ganho de potência; para-choque traseiro de novo desenho, mais liso e com acabamento superior na cor preta; lentes das lanternas traseiras redesenhadas; painel em dois tons de cinza; novos revestimentos internos. Não sofreu alteração a tão criticada localização dos botões de acionamento elétrico dos vidros e das travas das portas. A Renault aproveitou a oportunidade para alterar a nomenclatura das três versões do Clio, que passaram a chamar-se Autentique (a mais simples, correspondendo ao antigo RL), Expression (ex-RN) e Privilège (a top, antiga RT). Poucas novidades no Scénic, para 2003: apenas a instalação de acelerador eletrônico e novos semi-eixos de transmissão.

Em maio foi colocado à venda o Clio três-portas nacional. Com duas opções de motor (1.0 e 1.6, ambos 16v), o carro só era fornecido na versão básica Authentique, com acabamento espartano, na qual foram eliminados muitos dos detalhes de conforto e segurança que diferenciavam o Clio dos compactos dos demais fabricantes. As janelas traseiras tinham vidro fixo e, na versão 1.0, o air-bag estava ausente.

Em setembro de 2003 a Renault mostrou a linha 2004, com poucos aprimoramentos: oferta da versão básica Authentique também para o Clio 1.6 e lançamento de mais uma versão para o Scénic – Privilège Plus, a mais luxuosa de todas, equipada de série com todos os equipamentos disponíveis, tais como caixa automática, estofamento de couro e aerofólio traseiro. Os demais modelos da linha ganharam para-brisas degradê e a transmissão automática passou a ser disponibilizada para a versão 1.6, apesar da considerável perda de desempenho resultante. Em março de 2004 a linha Clio foi ampliada com a versão Dynamique, disponível para os modelos três portas 1.6 e 1.0 16v; com o objetivo de adquirir ares mais esportivos, o pequeno hatch foi dotado de um discreto aerofólio, faróis de neblina, rodas de liga leve e volante revestido de couro; os acabamentos seguiam o padrão da versão top Privilège.

Mégane Sedan e Grand Tour: dois grandes automóveis e nenhuma resposta de mercado

2004 foi o ano da difusão dos motores multicombustível nos automóveis brasileiros pelos “quatro grandes”. A novidade teve acolhida de mercado inesperadamente rápida, o que obrigou à maioria dos fabricantes a buscar a sua solução. Também a Renault teve que acelerar seus planos e preparou para o Salão do Automóvel de 2004, em cooperação com a Siemens, o Clio Hi-Flex, equipado com seu primeiro motor bicombustível (gasolina e/ou álcool), desenvolvido a partir do propulsor 1.6 16v. Disponível nas três versões do carro (hatch 3 e 5 portas e sedã), o Hi-Flex desenvolvia até 115 cv de potência e era anunciado como “o bicombustível mais potente da categoria”.

O segundo sucesso da Renault no Salão foi o Mégane II Sedan, anunciado para fabricação futura no país. Nos carros em produção corrente, quase nada de novo: novas lanternas traseiras no Clio sedã e garantia de dois anos, sem limite de quilometragem, para o Scénic. A van Master, por sua vez, recebeu acelerador eletrônico e um novo motor diesel – o francês 2.5dCi 16v (common rail), com 115 cv, gerenciamento eletrônico e injeção direta, em substituição ao nacional 2.8dTi, da Iveco. O objetivo da substituição era atender aos novos limites de emissão (Proconve V), previstos para o início do ano seguinte. O novo propulsor, além disso, proporcionava maior torque, menor consumo e níveis mais reduzidos de ruído. A previsão era de que em 2005 o motor fosse estendido ao restante da linha de comerciais.

Em 2004 a Renault produziu 66.645 veículos (1/4 exportados), dos quais pouco mais de 3.400 da linha Master. Embora a quantidade anual viesse crescendo desde a inauguração da planta de Curitiba, tal ocorria em ritmo excessivamente lento, incapaz de ocupar a capacidade ociosa de mais de  60%. Ainda que permanecesse na quinta posição com relação ao total fabricado no país, sua participação relativa se limitava a 2,9%. (A situação se agravaria no ano seguinte, quando a produção cairia 10% e a empresa perderia o quinto posto para a Honda.) Em vendas internas acabava de recuar do quinto para o oitavo lugar. Este discreto desempenho – com impacto direto sobre os resultados econômicos da empresa – foi objeto de avaliação do novo presidente mundial da Renault, em visita ao Brasil. Como forma de superá-lo, anunciou a “segunda onda” de dinamização da filial, definindo como prioridades o já previsto lançamento de novos produtos para ocupar espaços de mercado ainda não explorados, o aumento do índice de nacionalização e a melhoria da qualidade de atendimento da rede autorizada. Também determinou a utilização em maior escala da capacidade de desenvolvimento tecnológico local, com foco no Brasil e potencial de aplicação no restante da América Latina, para isso determinando triplicar a equipe de seu centro de pesquisa, então com 60 pessoas. Em poucos anos estas diretrizes começariam a surtir efeito.

   

Renault Mégane Sedan e Grand Tour.

Foram poucas as novidades de 2005: o monovolume Scénic recebeu motor flex – o mesmo 1.6 do Clio; o Clio 1.0 ganhou mais seis cavalos (passou a 76 cv), tornando-o o “mil” aspirado mais potente do país; em julho foi agregada à linha Master a versão Minibus com 13 lugares, com o mesmo comprimento do modelo para 16 passageiros, porém dotado de compartimento traseiro para bagagens; e, em novembro, surgiu o primeiro motor 1.0 flex da marca (76 cv a gasolina e 77 cv a álcool), equipando o Clio. Com o novo propulsor, o carro ganhou diversas alterações estéticas: novos para-choques, grade com dois filetes horizontais (em lugar do padrão anterior, tipo colméia), painel e volante com novo desenho, teclas de acionamento dos vidros transferidas do console para as portas. Na traseira, placa de matrícula deslocada para o para-choque, vinco horizontal na tampa do porta-malas e novo trinco, decorado com o logotipo da marca. No final do ano o Scénic, em ritmo descendente de vendas, ganhou dois novos porta-objetos, um deles refrigerado, ligado ao sistema de ar condicionado.

2006 foi o ano da chegada do esperado Mégane Sedan nacional. Carro médio bem equipado e com sóbrio, porém moderno design, teria como missão competir com os modelos topo de linha Chevrolet Vectra, Honda Civic e Toyota Corolla. Foi lançado em março, com a meta de produção de 20 mil unidades/ano, 40% a ser exportada para o Mercosul. Com duas alternativas de motor (1.6 flex e 2.0 a gasolina importado – os mesmos do Scénic), não trazia surpresas em sua arquitetura e concepção mecânica: carroceria monobloco, tração dianteira, caixa manual (opcionalmente automática seqüencial), suspensão independente, freios a disco. Disponível em duas versões de acabamento (Expression – a básica – e Dynamique), procurava se destacar pela carga de equipamentos e sofisticaçõ tecnológica que trazia de série, alguns itens meramente curiosos e sem grande utilidade prática, mas muitos outros necessários e só encontrados na concorrência como opcionais. Entre os primeiros estavam a chave (importada) com formato de cartão magnético, até hoje a primeira e única do país, o acionamento da ignição por botão e o freio de mão do tipo manche de avião. Importantes equipamentos de série estavam presentes mesmo no modelo básico: freios a disco nas quatro rodas, ABS, direção elétrica com assistência variável, duplo air-bag, computador de bordo, volante regulável em profundidade e inclinação, cintos de três pontos também no banco traseiro e ar condicionado. A versão Dynamique, além destes, trazia piloto automático e rádio-CD com mostrador digital no painel e comando no volante. O espaço interno era generoso, graças ao longo entre-eixos, assim como era grande o porta-malas, com 510 litros de capacidade. O carro pecava, porém, pelo acabamento interno, considerado pobre e descuidado. O modelo, lançado com 65% de conteúdo nacional, acabara de ter seu primeiro facelift na Europa, desconsiderado na produção brasileira.

O PRIMEIRO MÉGANE: SUA FICHA TÉCNICA: carroceria monobloco tipo três volumes, quatro portas, cinco lugares, bagageiro com 520 litros, 4,49 m de comprimento; motor transversal dianteiro refrigerado a água, com quatro cilindros em linha e 16 válvulas (1.598 cm3 flex e 110/115 cv ou 1.998 cm3 e 138 cv); tração dianteira com caixa manual de cinco ou seis marchas; direção com assistência elétrica; suspensão McPherson na dianteira e semi-independente na traseira (eixo de torção e molas helicoidais); freios a disco nas quatro rodas com ABS.

A despeito das suas qualidades evidentes, unanimemente reconhecidas pela imprensa especializada, o Mégane jamais avançou além do quarto lugar na categoria, não pesando, assim, no processo de retomada do desempenho da Renault. Economia, silêncio, estabilidade, espaço interno e posição de dirigir foram largamente elogiados pela imprensa, assim como seu estilo atualizado e a farta dotação de equipamentos. Na maioria dos testes comparativos foi considerado o segundo melhor, logo depois do recém-lançado Honda New Civic e muitos pontos à frente do Toyota Corolla. O cliente “médio” brasileiro de carros de luxo, entretanto, conservador e avesso a ousadias, sempre preferiu a mesmice de sedãs como o Corolla a propostas mais avançadas, tais como Mégane, New Civic e Mercedes-Benz Classe A. (Submetido ao teste de 60.000 Km pela revista 4 Rodas, o Mégane teve inúmeros desacertos com a rede de oficinas autorizadas. Além de muitas deficiências de acabamento e mau controle de qualidade, o carro apresentou apenas um – porém muito  grave – problema mecânico: a quebra da caixa de marchas aos 1.883 km.)

No final do ano, no XXIV Salão do Automóvel, coincidindo com a fabricação do 500.000º veículo e do milionésimo motor em Curitiba, foi mostrado em avant-première o Grand Tour, versão caminhonete do Mégane. Oficialmente lançado no início de 2007, com 60% de nacionalização, trazia as mesmas opções de motor e acabamento do sedã e compartimento de carga com capacidade para 780 litros (ou 1,6 m³, com bancos traseiros rebatidos). Testado pela revista 4 Rodas em conjunto com seus principais concorrentes, Toyota Fielder e o importado Peugeot 307 SW, o Grand Tour foi reconhecido como o melhor.

Logan e Sandero: com dois carros romenos a Renault se consolida no Brasil

A cartada decisiva da Renault para aumentar sua presença no Brasil, no entanto, foi lançada em maio de 2007, com o início de produção do Logan Sedan, pequeno mas espaçoso carrinho projetado na França para “países emergentes” e inicialmente apenas fabricado na Romênia, sob a marca Dacia. O lançamento brasileiro do Logan – que só ocorreria em julho – envolveu diversos movimentos estratégicos prévios: contratação de mais 800 empregados e abertura do segundo turno na planta do Paraná; transferência da produção do Clio (hatch e sedã) para a fábrica argentina; e exportação do Logan para México e Mercosul antes de seu lançamento no Brasil.

DACIA     Filial romena da Renault. Fundada em 1966, como empresa estatal, dois anos depois firmou contrato de absorção de tecnologia com a firma francesa, cujos modelos começou a fabricar sob licença. Em 1999, com a mudança de regime político no país, o governo romeno promoveu a privatização da Dacia, vendendo para a Renault 51% do seu capital. Em 2003 a Renault assumiu o restante do controle, nomeando a filial romena como centro mundial de desenvolvimento de produtos para “países emergentes”. 

O Logan foi concebido sob a égide da praticidade de uso, facilidade de construção e redução de custo, atributos visíveis em diversos aspectos de sua carroceria de linhas harmônicas e delicadas – injustamente criticadas como “toscas” por boa parte da imprensa – ainda que se pudesse perceber grande identidade entre seu design e o do tão louvado Mégane sedã. Assim, para poder disponibilizar um produto de custo mais acessível, janelas e para-brisas ganharam curvas pouco acentuadas; superfícies quase planas e vincadas da carroceria permitiram a utilização de chapas de aço menos flexíveis e mais baratas; a quantidade de peças foi drasticamente reduzida (cerca de 200, versus 600 no Clio); o acabamento interno recebeu partes maiores e de mais fácil instalação; e finalmente, foi aumentada a padronização de itens, permitindo o intercâmbio de componentes entre os dois lados do veículo (borrachas, maçanetas e espelhos, por exemplo). Nada disto, contudo, sacrificou o interior, o mais amplo da categoria, com espaço real para cinco passageiros e 510 litros de carga (sua distância entre eixos, de 2,63 m, era 3 cm maior do que a do “grande” Corolla).

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Sandero 2014 – mais um Dacia brasileiro, mais um sucesso Renault.

O Logan veio com três opções de motor flex, de 1,0 e 1,6 l, com 8 ou 16 válvulas e potências entre 76 e 112 cv. A tração era dianteira, o câmbio de cinco velocidades, a suspensão dianteira McPherson e os freios a disco na frente. Três versões de acabamento estavam disponíveis: Authentique (básica), Expression e Privilège. A primeira configurava um automóvel espartano, sem direção hidráulica, air-bags, console central e “trio elétrico” (vidros, travas e retrovisores),  sequer como opcionais. No extremo oposto, a versão Privilège trazia de série todos esses itens, além de ar condicionado, banco regulável em altura, computador de bordo, faróis de neblina, para-choques, frisos e maçanetas da cor da carroceria, entre muitos outros. Assim como aconteceu com o Mégane, os jornalistas especializados não economizaram elogios para o novo carro: motor, suspensão, posição ao volante, espaço interno, porta-malas, economia, tudo foi motivo de “grata surpresa“. Como críticas, apenas o acabamento (intencionalmente) simples e a unânime má vontade com relação ao estilo do carrinho. O Logan 1.0 e 1.6 pôde mostrar sua superioridade em diversos testes comparativos com Ford Fiesta, Fiat Siena, Chevrolet Classic e Prisma, Peugeot 207 Passion e o novo Volkswagen Voyage, promovidos pelas publicações 4 Rodas (07/07, 08/07, 10/08 e 05/10), Carro (08/07), Motor Show (08/07) e O Globo (04/02/09).

O PRIMEIRO LOGAN: SUA FICHA TÉCNICA: carroceria monobloco tipo três volumes, quatro portas, cinco lugares, bagageiro com 510 litros, 4,25 m de comprimento; motor transversal dianteiro refrigerado a água, com quatro cilindros em linha, flexível (998 cm3 16 válvulas e 76/77 cv; 1.598 cm3 8v e 92/95 cv; 1.598 cm3 16v e 107/112 cv); tração dianteira com caixa manual de cinco marchas; direção mecânica (hidráulica opcional); suspensão McPherson na dianteira e semi-independente por eixo de torção na traseira; freios dianteiros a disco e traseiros a tambor.

Em novembro foi mostrado à imprensa mais um Renault brasileiro, o Sandero hatch. O veículo, que teve sua apresentação mundial em setembro, no Salão de Frankfurt, seria aqui lançado no início do ano seguinte. Resultado de cinco anos de trabalho conjunto da França com a filial brasileira, foi construído sobre a plataforma do Logan com entre-eixos encurtado em 4 cm, embora deste não trouxesse nenhum traço estético que lembrasse a vinculação entre os dois modelos. A configuração mecânica e o espaço interno eram os mesmos do sedã; o comprimento total 23 cm menor e o estilo hatch, no entanto, produziam um porta-malas com 190 litros a menos. A Renault procurou aprimorar o design e melhorar a qualidade dos materiais no habitáculo do novo modelo. O critério de três versões foi mantido, a básica parcamente equipada e a top trazendo até mesmo ABS de série (indisponível no Logan). Logus e Sandero foram lançados com três anos de garantia e manutenção com custo pré-determinado.

O PRIMEIRO SANDERO: SUA FICHA TÉCNICA: carroceria monobloco tipo hatch, cinco portas, cinco lugares, bagageiro com 320 litros, 4,02 m de comprimento; motor transversal dianteiro refrigerado a água, com quatro cilindros em linha, flexível (998 cm3 16 válvulas e 76/77 cv; 1.598 cm3 8v e 92/95 cv; 1.598 cm3 16v e 107/112 cv); tração dianteira com caixa manual de cinco marchas; direção mecânica (hidráulica opcional); suspensão McPherson na dianteira e semi-independente por eixo de torção na traseira; freios ventilados a disco na frente e a tambor atrás.

Logan e Sandero foram as armas da virada da Renault no Brasil. Ajudada pelo forte desempenho da economia brasileira, a produção total da empresa cresceu 48,6% em 2007 e 25,2% no exercício seguinte, quando pela primeira vez ultrapassou as cem mil unidades anuais (122.160); em dois anos, portanto, cresceu mais de 82%, contra um aumento de 23% na produção global do país. A linha Master, a terceira mais vendida do país no segmento, com ¼ do mercado, já lutava pela segunda posição. No total, em 2007 as vendas internas da marca alcançaram 73.800 veículos, 43% a mais do que no ano anterior, justificando o primeiro lucro líquido da empresa desde sua implantação no país.

<renault.com.br>

 

O que houve de novo a partir de 2008

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2022

2023

2024

Séries especiais

Scénic Egeus (04/00), Scénic Alizé (11/00, 10/02), Clio Yahoo! (07/01), Clio Jovem Pan (04/02), Clio O Boticário (05/02, 05/04), Clio Alizé (11/02, 07/05), Clio Hi-Power (05/05), Scénic Sportway (04/06), Clio Sedan Egeus (04/06), Clio GetUp (04/06), Clio Air (09/06), Mégane Grand Tour Extreme (10/06, 07/09), Master Pack Clim (04/07, 09/08), Clio Plug (05/07), Scénic Kids (05/07, 03/10), Sandero Nokia (05/08), Mégane Extreme (04/09), Clio Get Up (04/09), Sandero Vibe (09/09, 11/16), Logan Up (10/09, 04/11), Symbol Connection (10/10), Sandero GT Line (11/10, 09/15), Logan Avantage (11/11), Sandero Stepway Rip Curl (03/12, 10/15), Duster TechRoad (10/12), Sandero Tech Run (10/13), Sandero Stepway Tweed (02/14), Sandero Outdoor (09/14), Logan Exclusive (02/15), Duster Dakar (11/15), Duster Dakar II (04/17), Sandero R.S. Racing Spirit (05/17), Logan Expression Avantage (08/17), Sandero GT Line 1.0 (10/18), Duster GoPro (08/19), Captur Bose (10/19), Sandero S Edition (11/21), Sandero R.S. Finale (12/21)

Importados (desde 1998)

Twingo (do Uruguai), Clio, Laguna, Espace e Kangoo (da França) e Mégane hatch, Mégane sedã e Traffic (da Argentina); Clio hatch e sedã (Argentina, 07/07); Grand Scénic (França, desde 03/08); Symbol (Argentina, 03/09); sedã Fluence (Argentina, 2011); elétrico Zoe E-Tech (França, 04/21); elétrico Kwid E-Tech (China, 08/22); elétrico Megane E-Tech (França, 09/23); furgão elétrico Kangoo E-Tech (França, 10/23)

Outras premiações e distinções (modelos nacionais)

Scénic (Os Eleitos 2001, categoria geral; revista 4 Rodas);  Clio Sedan (Os Eleitos 2002, categoria geral; revista 4 Rodas); Clio e Scénic (Melhor Compra 2003, categorias Carros de 20.000 a 25.000 reais e Minivans; revista 4 Rodas); Clio hatch (Os Eleitos 2003, categoria geral; revista 4 Rodas); Mégane Sedan 1.6 (Qual Comprar, escolha 2006, categoria Sedãs Médios; revista Autoesporte); Clio Sedan 1.6 (Melhor Negócio 2006, categoria De R$ 40.000 a R$ 45.000; revista Carro); Mégane Sedan (As 10 Escolhas de Autoesporte, categoria Injustiçado; revista Autoesporte, 12/06); Mégane Sedan 1.6 (Qual Comprar, escolha 2007, categoria Sedãs Médios; revista Autoesporte); Logan 1.0 (Melhor Compra 2007, categoria 25.000 a 30.000 Reais; revista 4 Rodas); Clio (Os Eleitos 2007, categoria Hatches Compactos; revista 4 Rodas); Clio 1.0, Logan 1.0, Sandero 1.6, Mégane e Grand Tour (Melhor Compra 2008, categorias de 18.000 a 22.000 Reais, 30.000 Reais, de 30.000 a 35.000 Reais, de 50.000 a 60.000 Reais e Peruas Médias; revista 4 Rodas); Logan (Carro Abiauto 2007, categoria Popular); Logan (Destaques 2007, categorias Geral e Sedã Pequeno; revista Motor Show); Logan e Sandero (Os Eleitos 2008, categorias Sedãs Compactos e Hatches Compactos Premium; revista 4 Rodas); Logan e Mégane Grand Tour (Melhor Compra 2009, categorias de 30.000 a 35.000 Reais e Peruas Médias; revista 4 Rodas); Sandero 1.0 (Carro Verde do Ano 2009; revista Autoesporte); Clio (Destaques 2008, categoria Veículo de Entrada; revista Motor Show); Mégane Grand Tour Clio (Destaques 2009, categoria Station Média; revista Motor Show); Clio e Sandero (Os Eleitos 2009, categorias Hatches Compactos de Entrada e Hatches Compactos Premium; revista 4 Rodas); Logan e Sandero (Melhor Compra 2010, categorias de 26.000 a 30.000 Reais, de 30.000 a 35.000 Reais e geral [Logan]; revista 4 Rodas); Clio, Sandero e Logan (Os Eleitos 2010, categorias Hatches Compactos de Entrada, Hatches Compactos Premium e Sedãs Compactos; revista 4 Rodas); Sandero (Carro Verde do Ano 2010; revista Autoesporte); Sandero e Logan (Os Eleitos 2011, categorias “Hatches Compactos Premium” e “Sedãs Compactos“; 4 Rodas); Duster (Os Eleitos 2012, categoria “Peruas e Utilitários Esportivos Leves“; 4 Rodas); Duster (Os Eleitos 2013, categoria “Peruas e Utilitários Esportivos“; 4 Rodas); Logan, Logan Expression e Duster Tech Road (Os Eleitos 2014, categorias “Melhor Compra 2014“, “Carros até R$ 40.000” e “SUV até R$ 80.000“; 4 Rodas); Duster Dynamique 1.6 (Melhor Compra 2015, categoria “SUV até R$ 70.000“; 4 Rodas); Logan 1.0 (Compra Certa 2015, categoria “De 35 a 40 Mil“; Car and Driver); Duster Oroch 2.0 (Compra do Ano 2016, categoria Picape MonoblocoMotor Show); Master (Maior Valor de Revenda 2016, categoria Camioneta de Carga – Chassi CabineFrota & Cia); Duster 1.6 Expression (Menor Custo de Uso 2017, categoria SUV4 Rodas); Master (Maior Valor de Revenda 2017, categoria Veículo Comercial – FurgãoFrota & Cia); Kwid Zen 1.0 (Melhor Compra 2017, categorias Grande Vencedor e Carro até R$ 38.000; 4 Rodas); Duster Dynamique 1.6 automático, Sandero R.S. 2.0 e Master Furgão (Melhor Compra 2017, categorias SUV até R$ 80.000, Esportivo até 350 cv e Furgão Acima de 1.000 kg; 4 Rodas); Kwid (Melhor Carro Compacto, Car Awards Brasil 2018; Car); Sandero e Kwid (Os Eleitos 2017, categorias Hatch Pequeno SUVs de Entrada; 4 Rodas); Kwid e Renault (Carsughi L’Auto Preferita 2017, categorias Carro de Passeio 1.0 e Marca com Maior Destaque em 2017); Kwid (Prêmio Abiauto 2017, categoria Melhor Nacional até 1200); Kwid Zen 1.0, Duster Expression 1.6 automático e Sandero R.S. 2.0 Racing Spirit (Melhor Compra 2018, categorias Carros até R$ 38.000SUVs até R$ 80.000Esportivos até 350 cv4 Rodas); Sandero R.S. 2.0 (melhor carro de passeio acima de 2.0; Carsughi L’Auto Preferita); Kwid Zen 1.0, Duster Expression 1.6 automático e Sandero R.S. 2.0 (Melhor Compra 2019, categorias Carros até R$ 40.000SUVs até R$ 80.000Esportivos até 350 cv4 Rodas); Renault (Melhores & Maiores 2019, melhor empresa do setor Autoindústria; Exame); Master (Furgão do Ano 2019, categoria Furgão de Carga; Prêmio Lótus e Frota&Cia); Kwid Zen 1.0 (Melhor Compra 2020, categoria Carros até R$ 45.0004 Rodas); Master (Campeão de Revenda 2020, categorias chassi-cabine e furgão; Frota&Cia); Master Furgão e Minibus (Certificação Campeão de Revenda 2020, categorias Furgão e Minibus; Frota & Cia); Renault (Carro do ano 2021: Melhor Pós-VendaAutoesporte); Kwid (Melhor Revenda 2001, categoria Hatch Subcompacto de Acesso4 Rodas); Master Furgão e Minibus (Certificação Campeão de Revenda 2021, categorias Furgão e Minibus; Frota & Cia); Renault Master e Master furgão (Selo Maior Valor de Revenda – Veículos Comerciais 2021, categorias UtilitáriosFurgão; portal AutoInforme); Kwid (Selo Maior Valor de Revenda – Autos 2021, categoria Entrada; portal AutoInforme); Kwid 1.0 Zen Flex (Melhor Compra 2021, categoria Carros até R$ 55.0004 Rodas); Master Furgão (Prêmio Lótus 2022, Campeão de vendas – Utilitários, categoria FurgãoFrota&Cia); Master Furgão (Prêmio Campeão de Revenda, categoria FurgãoFrota & Cia); Master Furgão (Selo Maior Valor de Revenda – Veículos Comerciais 2022, categoria Furgão de CargaAgência AutoInforme); Master Furgão (Campeão de Revenda 2022, categoria FurgãoFrota & Cia); Oroch (Selo Maior Valor de Revenda – Autos 2022, categoria Picape Compacta; Agência AutoInforme); Renault (Prêmio AutoData 2022, categoria Gestão/MontadorasAutoData); Duster Oroch (Prêmio Maior Valor de Revenda – Autos 2022, categoria Picape CompactaAgência AutoInforme); Renault (Maiores do Transporte & Melhores do Transporte [por seu desempenho financeiro em 2021], categoria Montadora de Veículos; OTM Editora); Renault (Prêmio AutoData 2023 – Melhores do Setor Automotivo, categoria Gestão/Montadoras; AutoData); Master Furgão (Prêmio Lótus, Campeão de Vendas 2023, categoria FurgãoFrota&Cia); Kwid e Logan (Melhor Revenda 2023, categorias Hatch Subcompacto de Acesso Sedã Compacto de Acesso4 Rodas); Master Furgão e Minibus (Campeão de Revenda 2023, categorias Furgão e Minibus; Frota & Cia); Master Furgão (Selo Maior Valor de Revenda 2023, categoria Furgão; Agência Autoinforme); Kwid Zen (Menor Custo de Uso 2023, categoria Hatches Compactos; 4 Rodas); Kwid (Selo Maior Valor de Revenda – Autos 2023, categoria Hatch de EntradaAgência AutoInforme); Renault (Prêmio Automotive Business 2023, categoria Indústria 4.0Automotive Business); Master Furgão (Prêmio Lótus – Campeão de Vendas 2024, categoria FurgãoFrota&Cia)





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